Seu erro foi ter voltado para casa antes do combinado! Pegou o corpo da mulher em delito de fornicação, na cama de seu filho pequeno, com o piloto de chapa quente da lanchonete Blue Horizon, que fica em frente ao local do vitupério.
O maldito foi esquentar a patroa, num momento de ausência de sua pessoa, requisitada que fora para resolver problemas de um tio entrevado lá pelos lados de Italva, Cardoso Moreira, sabe-se lá onde. Antes de chegar ao destino, deu de cara com os maus bofes do rio Muriaé, mais uma vez transbordando de não dar passagem seca para veículo de passeio. Deu meia volta na viatura e chegou mais cedo a casa. Foi o que bastou!
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Na hora do desatino, deu tiro de garrucha no teto, jogou o colchão no quintal, abriu as janelas e gritou para a rua que estava sendo traído, “que eu vou matar um e outro, que isso, que aquilo”. Enquanto fazia seu teatrinho Trol, o esquentador de sanduíche providenciava repor as roupas e escafeder-se do local do crime, pela porta da frente, os vizinhos já de butucas atentas para se inteirarem do mau passo da mulher.
No dia seguinte, encomendou faixa a um pintor especializado, a qual estendeu diante da casa desmoralizada: “Minha mulher Zoraide me traiu com o f-d-p do Jucilei da lanchonete, na cama de nosso filho menor”. Coisa de sair nas folhas diárias e nas revistas semanais.
Jucilei tirou quinze dias de licença médica no INSS, alegando problemas psicológicos, e Zoraide botou exagerados óculos escuros e chapéu de aba larga, para ir à manicure dar um retoque de francesinha em suas unhas maltratadas.
O marido, Raulino de nome de batismo, o Lino da roda de habitués do botequim da esquina, estava soberbo com seu gesto, como se a faixa estendida diante da casa o aliviasse do opróbrio e da vergonha, ou fizesse estender sobre sua vida indulgência plenária. Entrava no boteco e pedia uma cerveja, como se fosse beber um Pera Manca tinto, tal era a empáfia. Os frequentadores estranharam a mudança de comportamento, mas foram incapazes de comentar com ele. Temiam que fossem contaminados por aquela autossuficiência advinda de fato tão lamentável.
A faixa ficou estendida por quase dez dias, Zoraide entrando e saindo de casa, atrás dos óculos e debaixo do chapéu, e ele com o peito estufado. Porém não se falavam mais. Trocaram de cama e de quarto, porquanto as relações estivessem suspensas a perder de vista.
No entretanto, num sábado escuro de tempestade forte, com vento encanado zunindo na ponta dos postes de energia, a faixa foi para as cucuias. Trovões e raios caindo amiúde, o barulhão roncando na cumeeira, ele correu para a cama da mulher, com o disfarce de um medo que tinha desde o baú da infância, e aproveitou a ocasião para se esquecer completamente da afronta sofrida.
Ela, que não mais vira o tal esquentador de pão com manteiga, porque não voltou a frequentar a lanchonete Blue Horizon, deu o assunto por encerrado e tratou de se embolar com ele, num fuzuê carnal de fazer vergonha.
O pipocar de raios e coriscos, no ribombo dos trovões, mandou todos os pudores na enxurrada que veio a seguir, o filho dos dois dormindo inocentemente no quarto ao lado.
Durante o café da manhã do dia seguinte, no rádio sintonizado na MPB FM, Zeca Pagodinho cantava Casal sem-vergonha, como a sacramentar os acertos ocorridos, entre os lençóis, na véspera.
Este é o típico corno político: só faz estardalhaço em tempo de eleição.
ResponderExcluirAi...ai...corno-cristão é outro coisa, perdoa a pecadora e volta a pecar com ela. Ri muito.
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