(Uma ficção calcada em fatos reais e vindouros.
Para Bruno e Gabriela.)
Dia desses, minha mãe e
meu pai me chamaram para uma conversa. Disseram que tinham uma notícia muito
importante. Eu, na verdade, nunca sei o que é muito importante para eles. Talvez
falar de escola, de trabalho, do Botafogo. Meus pais são botafoguenses. Até minha
mãe, que não era, virou por nossa causa. Aí fiquei pensando em que tipo de
notícia eles tinham para mim. Será que, porque vamos mudar para São Paulo, eles
iam dar nossa cachorra Banana para os outros?
Preciso dizer aqui que tenho
uma irmã mais velha, a Gabi, que vai fazer onze anos. Eu vou fazer sete, um mês
antes de ela fazer os onze. Ainda tenho seis. Será que a notícia era só para mim
e não para a Gabi também? Então não deve ser por causa da Banana ou de São
Paulo, senão seria uma conversa com nós dois. Aí acho que fiquei meio
preocupado.
Pois eles começaram a
dizer que era uma boa notícia, que eu iria gostar muito. Então comecei a ficar
animado. Seria outra viagem à Disney? Ou outro passeio com os meus avós? De vez
em quando eu e minha irmã também viajamos com eles, e gosto muito. Ou iríamos passar
férias na casa de Araras da nossa outra avó?
Mas não era nada disso. Com
o jeito estranho dos adultos para falar essas coisas, eles me disseram que vou
ganhar um irmãozinho. Ou irmãzinha. Ainda não sabem. No início fiquei sem saber
o que dizer. Mas, de repente, soltei um sorriso e um oba! que bom!
Não sei se quando eu fui
nascer, eles também falaram assim com minha irmã. Acho também que não ia
adiantar muito, porque ela ainda era muito pequena e não entenderia. Eu agora
já sou grande, sei muitas coisas e entendo tudo. Eles podem muito bem falar,
que eu entendo. Não sou mais um bebezinho que não sabe nada. Tenho até umas
perguntas para fazer para eles: Em São Paulo neva? Ainda é 2015 em São Paulo? Não
quero me mudar para um lugar atrasado. Aqui em Vitória é muito bom de morar.
Uns dois dias depois, meu
pai me perguntou como eu estava me sentindo por saber que ia ter um novo irmão
(Ou irmã. Até agora ninguém sabe!) e deixaria de ser o irmão mais novo, para
passar a ser o irmão do meio. Acho que meu pai anda preocupado com o que eu
possa sentir. Deve estar pensando que eu vou deixar de ser o príncipe da mamãe,
por causa desse que vem aí. Eu posso até deixar de ser o príncipe e o
outrozinho passar a ser. Mas eu vou me tornar o rei da mamãe. Ele que fique de
príncipe!
Pensei um pouco e disse
para papai:
- Vai ser legal, pai, mas
não vou fazer com ele o que a minha irmã faz comigo!
E ele quis saber o que a Gabi
faz comigo. Então tive que dizer mesmo.
- Ela enfia as unhas
grandes no meu braço e rasga a minha carne!
Ele ficou muito espantado,
quando revelei como minha irmã faz comigo. Ela, na verdade, é uma boa irmã. Brincamos
e brigamos do mesmo jeito. Mas eu precisava deixar claro para meu pai que
estava começando a doer eu perder a condição de príncipe da mamãe. Aliás, devo
dizer aqui que a mamãe tem um chamego todo especial comigo. E me passou pela
cabeça que ela pode dar muita confiança para o meu irmãozinho – ou irmãzinha,
sei lá!
Papai quase não acreditou
no que eu disse e quis saber ser era mesmo verdade o que a Gabi faz comigo. Eu disse
que sim, que ela estraçalha a minha carne, mas que eu não iria fazer isso com
meu irmãozinho. Papai ficou todo feliz e perguntou por que eu não faria a mesma
coisa com ele:
- É que não tenho unhas
compridas como a Gabi! - respondi.
Acho que, nessa hora,
senti que meu pai tomou um susto, mas no fundo parecia querer rir. Não entendi
muito bem a cara que ele fez, mas eu só fui sincero, e acho que a gente não
pode ser castigado só porque é sincero. Como sempre penso muito rapidamente e saco
muito bem as coisas, e completei:
- Que bom! Vai ser bom ter
o neném, porque eu vou ter em quem mandar, pelo menos!
Meu irmãozinho – ou irmãzinha
(Daqui mais um tempo, a gente vai saber.) pode ficar tranquilo, porque minhas
unhas nunca ficam compridas como as da Gabi. Minha babá está sempre me mandando
tomar banho, escovar os dentes e cortar as unhas.
Puxa vida!
Eu e minha irmã, no Mundo a Vapor, em Gramado (foto do meu avô). |