31 de outubro de 2019

MEU CORAÇÃO NÃO SOSSEGA DE AMAR


Meu coração não sossega de amar
Amou desde a primeira infância
A começar a família
Minhas colegas de escola primária
E a minha escola
Amou a minha vila natal
Amou as tardes de sol poente
E os dias de tempestade
Amou a colheita da cana
Que passava nos caminhões pelas ruas de paralelepípedo
Amou as festas juninas
As quadrilhas marcadas pelo seu Alcino
Amou reconditamente depois
Algumas colegas do ginásio e do científico
Amou o isso e o aquilo
E o Botafogo acima do impossível
A nossa língua no que tem de dizível e indizível
E continuou amando desmedidamente
Absurdamente amou
Até que amou demais
E aportou no conforto de um amor maduro
Da mulher a que se ama
E continuou amando os filhos que tive
Os trabalhos que fiz
Os amigos e vastos alunos durante anos
E agora
Quando deveria descansar de tanto amar
Ama desbragadamente meus netos.

Quando é que há de parar de amar, coração agônico?
É mais nunca!
Responde-me ele lá do fundo do peito
No descompasso pulsante de cada amor candente.

Museu de Arte Contemporânea de Niterói, ao pôr do sol (foto do autor).


17 de outubro de 2019

SENDAS DA AMÉRICA


Amor
Eu te prometo o lábaro estrelado
A pátria amada
A terra de Pacha Mama

Fica a meu lado
Não me abandones nos Andes
No deserto de Atacama

Deita-te na minha cama
Ouve os meus segredos
Intui o que eu não digo
Pois não corro riscos
Se estou contigo

Me espraio na Patagônia
Aspiro o ar rarefeito de Cochabamba
E caio nos desfiladeiros da América

Fica comigo, amor
Até que a trilha que se insinua
Nos leve fisicamente ao polo morte.


Resultado de imagem para mapa da america do sul
Mapa da América do Sul de 1546, elaborado por Pierre Descelliers (em sogeografia.com.br).