Meu coração não sossega de
amar
Amou desde a primeira
infância
A começar a família
Minhas colegas de escola
primária
E a minha escola
Amou a minha vila natal
Amou as tardes de sol poente
E os dias de tempestade
Amou a colheita da cana
Que passava nos caminhões
pelas ruas de paralelepípedo
Amou as festas juninas
As quadrilhas marcadas pelo
seu Alcino
Amou reconditamente depois
Algumas colegas do ginásio e
do científico
Amou o isso e o aquilo
E o Botafogo acima do
impossível
A nossa língua no que tem de
dizível e indizível
E continuou amando
desmedidamente
Absurdamente amou
Até que amou demais
E aportou no conforto de um
amor maduro
Da mulher a que se ama
E continuou amando os filhos
que tive
Os trabalhos que fiz
Os amigos e vastos alunos
durante anos
E agora
Quando deveria descansar de
tanto amar
Ama desbragadamente meus
netos.
Quando é que há de parar de
amar, coração agônico?
É mais nunca!
Responde-me ele lá do fundo
do peito
No descompasso pulsante de
cada amor candente.
Museu de Arte Contemporânea de Niterói, ao pôr do sol (foto do autor). |