24 de junho de 2018

NOITE ANTIGA

na noite antiga da venda de meu pai
em volta do vidro de pé de moleque
caçadores pescadores trabalhadores rurais
criadores de passarinhos
contam causos caçoam uns dos outros
conversam conversam conversam
o menino ali está bebendo cada anedota
surpreendendo-se a cada história
do domingos peçanha
do joão dutra
do azamor
do aristides lugão
do joão coleto
do antônio/pedro/tião romualdo
do alcino carroceiro
do china
do alcides almeida
do ferreirinha
do todinho
do aristóbulo
do zé carola
do dico hilário
e de tanta gente mais que não cabe
naquela pequena venda
senão na minha memória
na minha teimosa memória de bicho do mato






Casa em ruínas, em São Domingos, Niterói-RJ (foto do autor).

10 de junho de 2018

SAUDADES DO LEITE QUEIMADO


Não sou dado a saudades de coisas, lugares e épocas. Sou mais chegado a saudade de pessoas, de gente. Mas hoje amanheci com saudades de mim, em minha terrinha natal, nos meus verdes anos, como diria o poeta romântico. É que vi um programa de viagem gastronômica na tevê, e a linda apresentadora estava tomando leite queimado, num restaurante em Belo Horizonte.
A cena me deixou bem balançado. Só não chorei, porque ainda há um resquício de espírito machão lá no fundo dessa carcaça septuagenária a me mandar segurar certas emoções baratas. Mas que deu vontade verter umas lágrimas, isso deu! Tenho de ser sincero com vocês, pelo menos agora, em que resolvi abordar o assunto.
É que leite queimado, que os mineiros chamam de leite queimadinho, era uma das delícias da minha infância, sobretudo nos dias frios do inverno de Carabuçu. Era só a temperatura cair, para que pedíssemos à nossa mãe que nos fizesse aquela delícia, elaborada com açúcar, que se queimava na panela; o leite, que se lançava sobre o açúcar derretido; e a canela em pau, lançada em seguida. Então, eu e meus irmãos tomávamos com cuidado aquele líquido doce e quente, encorpado e cheio de sabor, para espantar um pouco o frio que entrava pelas gretas de portas e janelas e acabava por penetrar nos ossos e na pouca carne de nossos corpos miúdos.
Por essa época, o inverno em nossa vila costumava ser rigoroso. Já disse alhures que, certa vez, ouvi meu pai responder a uma pergunta sobre a temperatura e dizer que estava em oito graus. Lá fora, pela janela, era possível ver a cerração baixa sobre as casas e os paralelepípedos das ruas.
Hoje já não faz tanto frio. Os especialistas estão cansados de nos alertar sobre  o aumento gradual da temperatura do planeta.
Hoje também, já perdida a infância descompromissada do interior e as boas taxas da saúde geral, o leite queimado que me fazia tão bom gosto na vida é iguaria de que já não posso mais usufruir.
Por isso é que, ao ver a cena em que Mel Fronckowiak, a bela apresentadora do programa, provava maravilhada aquele gosto de infância, inverno e saudades provocou em mim um marejamento incômodo nos olhos. Bem que eu não queria, mas foi meio incontrolável, confesso.
Fui levado de supetão a uma infância que ficou perdida num tempo e num lugar mágico, que a memória, teimosa que só ela, ainda preserva. Para que a vida não pareça de todo sem sentido. E eu possa ter histórias a contar a meus netinhos.

Na casa da mãe (foto do autor).

5 de junho de 2018

ASFALTO & MATO AGORA É TAMBÉM LIVRO



Incentivado e quase exigido pelos amigos Eduardo Pachedo de Campos e Rogério Andrade Barbosa, resolvi juntar alguns contos que posto aqui no blog e publicá-los. Orientado pelo também amigo Hilário Francisconi, trago agora publicamente, pela editora Clube de Autores, ASFALTO & MATO, em formato impresso e em e-book. 
Os leitores que tiverem interesse em adquiri-lo é só se dirigirem ao endereço abaixo.
Espero que gostem.


https://www.clubedeautores.com.br/book/257005--ASFALTO_E_MATO#.WxbgxUgvyUk