29 de outubro de 2013

LIBERDADE REVISITADA


deste morro tão baixo é que te vejo pequena
liberdade
e conto sem dificuldades tuas lâmpadas pelas ruas
pontilhando tua pouca iluminação
ainda agora ampliada pela do morro da caixa-d'água.
tudo em volta é o que sobra da escuridão dos pastos
e da pouca lavoura que restou para teus filhos
que não enchem mais tuas ruas acanhadas
nos finais de semana como outrora.
há noites e noites em tua história sem fulgor
ó liberdade
e os dias se sucedem mostrando o teu vazio de agora.
nem tua festa anual é tão cheia
quanto os corações encantados dos teus filhos.
nem tua preguiça rotineira é tão devagar
quanto o tempo que não corre em nossa memória.
tuas casas ainda continuam olhando os passantes
sem querer retê-los indefinidamente.
é que de teu calçamento sobreleva alguma pressa
trazida pela estrada de asfalto
a comprovar tua ligação com o mundo exterior.
mas fora de ti
doce liberdade
a vida é um compromisso feito apenas de frio e dor.

(PS: Liberdade era o antigo nome da vila onde nasci, Carabuçu.)

Van Gogh, detalhe de Noite estrelada (em viagem.uol.com.br).


25 de outubro de 2013

DE ESTUPIDEZ EM ESTUPIDEZ, CHEGAREMOS À SABEDORIA

Talvez um dos estágios mais chatos da inteligência humana seja a sabedoria.

Imaginem se todos os homens fossem dotados daquilo que se convencionou chamar de sabedoria. Ou, pelo menos, imaginem um homem sábio. Sábio vinte e quatro horas por dia. Haverá de ser uma chatura só!

O que nos move adiante, o que nos faz nunca parar, nunca desistir é insistir em fazer besteira, em pensar bobagens, em ser estúpidos.

Aí está a mola de todo o progresso: a estupidez humana. Pois o sábio, certamente, terá respostas para todas as questões; ou, se não as tiver, terá perguntas interessantíssimas a fazer. Há até propaganda neste sentido. Já os demais seres comuns vivem dando cabeçadas, procurando caminhos, no intuito de, um dia, também chegar à suprema sapiência.

No entanto, tem ocorrido com frequência que certas expressões de estupidez são estúpidas demais. Coisa de não se acreditar!


Advertência do site português megaphone.pt.

E olhem que não estou falando aqui dos que creem em milagres com hora marcada, em espertalhões de todos os credos que vivem de oferecer o paraíso por um precinho módico. Refiro, simplesmente,  coisas mais banais, corriqueiras.

Outro dia mesmo, ouvi um médico renomado dizer, em canal televisivo, que está quase chegando o momento de se pedir desculpas ao colesterol, pelo tanto de aleivosias que assacaram contra o pobre coitado, responsabilizado pela quase totalidade dos problemas cardíacos. Isto em função de a ciência (acho que é com letra minúscula mesmo) ter descoberto que o problema não é o colesterol. O problema do entupimento de vasos sanguíneos é de uma inflamação, que retém o colesterol. Este mesmo tem todo o direito de viajar pelo sistema de vasos do organismo. Agora, segundo ele, a Medicina tem de dar um jeito é nesta inflamação das artérias.

Ao ovo e à carne de porco, também já há pedidos formais de desculpas. Inclusive andam dizendo que a carne de galinha é pior para a saúde que a de porco. Eu, pelo menos, jamais deixei de comer qualquer delas e vou vivendo, mesmo aos trambolhões, mas com certo prazer.

Vai chegar um tempo – e já disse isto alhures (ô, palavrinha mais antiga!) – que se comprovará que o colesterol bom faz mal e que o colesterol ruim é bom pra caramba. Não houve um tempo em que se receitava fumar cigarros para combater certos tipos de problemas, sobretudo os de fundo nervoso? O próprio planeta que habitamos já não foi o centro do Universo?

Estas são manifestações da estupidez com data marcada e prazo de validade. Somos expertos neste tipo de coisa. Posteriormente, vêm outros especialistas que desdizem o que os anteriores disseram e por aí vai.

Já ouvi, por exemplo, especialista dizer que o homem, erroneamente, é o único mamífero que bebe leite depois de desmamado. E disse isto com toda a certeza de que quem assim o faz está quase cometendo uma heresia alimentar. Ao desmamado não caberia o direito de tomar leite!
Que grande bobagem, que grande asneira! Este mamífero, primata, bípede, implume, metido a besta, também bebe cerveja, vinho, cachaça, água com gás, cuba libre, vodca, o diabo a quatro. E por que não pode beber leite? Só por que se desmamou?

Também disseram que temos de tomar, no mínimo, dois litros d’água por dia, sem o que comprometeremos nossa saúde. Uma médica inglesa, todavia, afirmou que não há nada de científico nisto, já que, quanto mais líquido você tomar, mais sobrecarregará seu rim. Segundo ela, o ser humano tem de beber a água de que necessite, quando está com sede. Esta segunda estupidez me parece mais sensata.

Há tempos, também na tevê – no programa Sem Censura –, uma “especialista” “descobriu” que, se tivermos problemas estomacais, devemos comer bucho de boi (dobradinha), porque há certas propriedades nele que se assemelham às de nosso estômago. Assim também, para os que tenham algum problema cardíaco, comer coração ajuda. Naquele instante, minha mulher, encantada com esta estupidez racionalizada, chamou minha atenção. Detonei o argumento, perguntando se teríamos de comer o cu do boi, se tivermos problemas de hemorroidas.

Eu tenho uma dificuldade terrível para acreditar no inacreditável. Por exemplo: simpatias, mandingas, horóscopo, quiromancia, cartomancia, piromancia, mapa astral, Tarô, vidente, baralho cigano, etc. Recentemente descobriram novo signo do zodíaco. E agora como é que ficam todas as previsões feitas com base apenas naqueles doze anteriores. Não muda nada? Ah, é! Então o troço não funciona! Então muda? E como ficam as previsões feitas sobre bases erradas?

O grande problema da estupidez é que, por vezes, ela se solidifica no seio da sociedade e passa a valer como verdade certa e insofismável. E atinge ares de sabedoria.

E é aí que estaremos todos lascados!


21 de outubro de 2013

POEMA GASTROERÓTICO

Eu quero o teu queijo voluptuoso
Incendiando meu nabo nacarado
Sentir os teus aspargos quentes
Em torno do meu porco aconchegado
E molhar com minha língua ao molho
O teu bolo em dois nacos afastados
Sorver o caldo dos teus melões rosados
Lamber os esconsos do teu coco
E penetrar-te a vagenzinha tépida
Com os meus picles loucos
Para que enfim um dia
Possamos realizar
Todos os nossos sonhos de padaria

Imagem em ahmanolo.blog.br.

18 de outubro de 2013

NEQUINHA CAPADOR

A fama de Nequinha Capador varava os limites do quarto distrito de Bom Jesus do Itabapoana, a vila de Liberdade. Vinha da Serra da Capetinga, cortava terras da Forquilha, do Jacó, passava pela Vala, pelo Coleto, adentrava as ruas da vila, daí partindo em direção às terras da Fazenda da Liberdade, da do Dr. César Ferolla, ou desviava para o Chico Anacleto, o Paulo Barroso. Adentrava depois o Mutum, subia até a Serrinha, rodeava a Sesmaria, variava para o Corgo Seco, e amenizava, na volta, já próximo ao Espírito Santo, nas imediações do Jáder Figueiredo. Como veem era uma fama descomunal, abusada, ostentatória. Por isso ninguém deixava de contratar os serviços técnicos de Nequinha Capador, quando o assunto era emascular qualquer bicho doméstico: boi, porco, bode, dentre outros.

Alguém que se dispusesse a dividir a praça em negócio de castração de bicho estaria fadado ao fracasso. Como ocorreu com um brancarrão alto, bigode de ponta virada, que apareceu na vila pelos meados da década de cinquenta. Pois desistiu do serviço e passou a criar pato numa lagoa próxima à fazenda do Nilo Souza.

As mãos de Nequinha pareciam feitas para o serviço: suaves, quando precisavam ser suaves; vigorosas, quando o serviço assim o requeria.

E não cobrava barato o Nequinha. Serviço seu tinha o devido valor, a depender do tamanho, da raça e da brabeza do bicho a ser capado. Não fazia era distinção da extensão da propriedade do dono do bicho. Fosse ele enricado ou por enricar, o que botava preço no serviço era o bicho e suas artimanhas.

Sempre, na vida de qualquer vivente, há um porém, há um contratempo, um senão. E não podia deixar de ser diferente na de Nequinha.

Chamado a um serviço na Fazenda da Matinha, Nequinha foi devidamente avisado de que seu paciente era um garrote enquizilado, cheio de nó pelas costas. Ele, que nunca demonstrou medo de nada, disse para o emissário da fazenda:

- Deixa comigo, conheço meu ofício, sei o que fazer.

No dia marcado, chegou na sua mula baia garbosa e foi logo indagando do paciente, onde estava, como é que estava, coisas e loisas.

O bicho estava isolado em uma divisão do curral, previamente limpa e preparada para a castração. Parecia ter sido avisado pelos deuses dos animais do que lhe iria acontecer. Ou talvez, quem sabe, a fama exorbitante de Nequinha já tivesse chegado aos ouvidos do garrote?

Nequinha, para mostrar superioridades e segurança, olhou o bicho nos olhos, no que foi correspondido de forma ameaçadora e fuzilante. Nesse instante, a convicção de Nequinha experimentou uma friagem esquisita. Para espantar aquele mau-olhado, raspou a goela, pediu uma dose da afamada cachaça produzida na fazenda, pegou os instrumentos do ofício e entrou no cercado onde estava o futuro castrado.

Entrou jeitoso, cheio de disfarces, na tentativa de iludir o pobre animal. O bicho bufou, raspou o casco no chão, ao que Nequinha respondeu com aboios suaves para amansá-lo. O bicho negaceou, Nequinha negaceou, e ficaram os dois se estudando. Quando o castrador, com tapinhas leves na anca do garrote, resolveu dar a volta por trás, no intuito de verificar o tamanho do material a ser extirpado ou aniquilado, por incrível que possa parecer, levou um coice com tal peçonha em suas partes, que foi lançado contra a cerca do lado oposto. Com um grito lancinante, ficou estendido no chão, o bicho com os olhos fixos nele, bafo quente nas narinas, a baba escorrendo da boca.

O pessoal da fazenda puxou Nequinha por debaixo da tábua do curral, ele desfalecido pela dor, o corpo na consistência de maria-mole, e o depositou sobre a prateleira dos latões de leite. O fazendeiro mandou o filho correr a casa para pegar o álcool canforado, com o qual trouxe Nequinha de volta ao juízo normal. O homem gemia, que gemia, e ficou deitado ali por um bom tempo.

Por uma questão de bom senso, o fazendeiro hospedou Nequinha por aquela noite na fazenda e mandou seu filho, na manhã seguinte, levá-lo de caminhonete à cidade para consultar médico doutor de gente, porque estava com preocupações profundas acerca da saúde do profissional.

Examinado de norte a sul, de leste a oeste, pelo doutor Valdir, teve o pior diagnóstico que um capador poderia ter em toda a vida: o coice pestilento do garrote castrou Nequinha, deixando-o roncolho para o resto de seus dias, sem possibilidades de produzir novos capadores em terras de Liberdade.

O reino animal estava vingado!

14 de outubro de 2013

REBOCADORES

Rebocares na Baía de Guanabara (foto do autor)

Os rebocadores
- na baía -
Fundeados
Aguardam
- um dia - 
 As dores que rebocar.

10 de outubro de 2013

HISTÓRIAS DE CRIANÇAS


1.       Meus sobrinhos Dondinho e Dudu, hoje belos rapazes, certa vez estavam com os pais para o almoço de domingo num restaurante da Praia dos Cavaleiros, em Macaé, onde moram. Enquanto aguardavam o pedido, os dois começaram a brincar e, como é de praxe, a brigar. O pai, para tentar acalmar a dupla, leva-os para fora, num espaço aberto que havia na frente do restaurante. Já lá estava um menino menor, dos seus quatro anos, fortes óculos de grau a denunciar hipermetropia. Dando um pito nos filhos, dirigiu-se ao menino zoclerinho (como dizia minha filha quando pequena, ao ver uma criança de óculos) e falou:

- Veja como é feio dois irmãos brigarem!

Do alto do seu meio metro e de sua larga experiência de vida, o zoclerinho  disse:

- Eu não se meto em briga de irmão dos outros!


2.       Dois sobrinhos de minha amiga e madrinha de casamento Marília, de cerca de cinco e três anos, começaram a se estranhar. Empurra um, empurra outro, o mais velho lança ofensa desabonadora ao mais novo:

- Seu bosta!

O mais novo não titubeou e deu o troco, com juros, multa e correção monetária:

- Seu bosta, seu cagosta, seu mijosta!

 
3.       Um primo da mãe de Dondinho e Dudu morre no Rio de Janeiro, vítima de fulminante infarto. Em Macaé, ela recebeu a notícia a tempo de vir com o marido, para o sepultamento do  primo. Antes, no entanto, foi explicar para os filhos o motivo da viagem:

- Estamos indo ao Rio, porque o primo morreu.

- Morreu de quê, mãe? – pergunta Dondinho.

- Do coração.

- Foi tiro, mãe? – ainda Dondinho, querendo entender a causa da morte.

- Não filho, não foi tiro.

- Então foi flechada?

A violência já era muita e na cabeça dele flechas ainda voavam pelo céu do Rio de Janeiro, como nos tempos de Arariboia.


4.       Quando minha filha tinha lá seus dois anos, falava pelos cotovelos uma língua portuguesa mal e mal adquirida. Todas as manhãs, ia levá-la à escola, juntamente com o irmão mais velho, e gostávamos de ouvi-la falar um trio de palavras que saíam com o fonema /r/ fora do lugar. Dávamos boas risadas:

- Curlé, murlé, carlô! - dizia ela, eufórica com seu desempenho linguístico.

Quase sempre, quando já estávamos próximos à escola, pedíamos para que ela falasse aquelas três palavrinhas engraçadas. E ela sem vacilar:

- Curlé, murlé, carlô!

Até que um dia, toda orgulhosa, disse:

- Pai, descobri outra palavrinha igual àquelas.

- Qual?

- Curlé, murlé, carlô, dormi!

Aí a risadaria foi geral!

 
5.       Minha netinha Gabriela, hoje com oito anos, morou em São Paulo de janeiro de 2007 a maio de 2008, portanto entre um e dois anos e poucos meses. Tinha um belo relógio da Barbie, que usava no bracinho pequeno. Acabou esquecendo o relógio em um restaurante de Alphaville, perto de casa. Quando esteve conosco, posteriormente, reclamou a perda do relógio. A vó, então, prometeu-lhe outro igual. Procuramos o relógio em várias lojas de Niterói e do Rio, sem sucesso. O tempo passou-se.

Em  2009, já com quatro anos e de volta ao Rio de Janeiro, ela pede que a vó lhe compre a fantasia de Cinderela. A avó diz que compraria. Ela duvida de que a avó vá cumprir o acordo. Deslembrada do fato, a avó diz:

- E a vó, alguma vez, não cumpriu alguma coisa que prometeu a você?

Ela, com a memória própria das crianças, diz com segurança, dois anos depois:

- E o relógio da Barbie, que você prometeu e não me deu?!

 
6.     Minhas sobrinhas Sheila e Shana, na época com cerca doze e nove anos, tinham hábitos e comportamentos bem distintos. Sheila dormia sempre tarde, era mais calada, mais introspectiva, mais estudiosa. Shana, por sua vez, era espevitada, brigona, dormia cedo e não costumava deixar de dar troco em nada. Certo dia, as duas discutiam e Sheila disse para a irmã:

            - Você dorme com as galinhas!

            Shana achou-se profundamente ofendida e respondeu na lata:

            - E você dorme com as piranhas!


"Criança com uma Laranja", de Van Gogh
Van Gogh, Criança com uma laranja (em expresso.sapo.pt).
 

3 de outubro de 2013

NINGUÉM MAIS TIRA FARINHA COM MANEZINHO PINDOBA

No primeiro mês do verão suarento daquele ano de 1937, Antônio Jacobina, conhecido por Tonico Amansa Corno, pregou sua mão pesada nas fuças de um tal Manezinho Pindoba, por uma discussão boba de castração de porco. Tal ocorrido sucedeu na venda do Roldão, que, dentre outras coisas, vendia vinho quinado e cachaça vagabunda.

Os circunstantes, na sequência da bolacha desferida, abriram a roda para ver o que aconteceria, doidos que estavam por uma diversão naquela tarde de sábado quente, a prometer chuva forte, conforme se podia ver lá para os lados das terras do Azamor.

Roldão, com sua fala estropiada, nem teve tempo de pedir paz aos brigões. Manezinho Pindoba meteu a mão na cintura, puxou uma peixeira enferrujada e fez uma tubagem na barriga de Tonico Amansa Corno, que caiu de borco no meio da venda, sangue se esparramando para todo lado, o fato brotando no buraco aberto na barriga.

Antes que todos pudessem tomar tento do acontecido, Manezinho Pindoba correu para a porta da rua, montou sua mula ruana e sumiu para os lados da Sesmaria, esporando a coitada com vontade.

Correram a socorrer o esfaqueado, que deitaram de barriga para cima, ele a segurar o ferimento com as mãos, gemendo e dizendo imprecações contra o agressor.

Esta foi a primeira vez que alguém enfrentava Tonico Amansa Corno. Por mais de dez vezes ele já tinha se metido a besta com uns e outros, desacatado marido de mulher falada, ofendido gente mais fraca que ele, passado o chicote em desafeto. Até que chegou seu dia.

Manezinho Pindoba nunca fora um cara valente, desses que se encontram pelo interior às pencas, capaz de falar desaforo como se dissesse um boa-noite. Era um hominho baixo, atarracado, pele curtida pelo sol, a barba sempre por fazer, que vivia de tirar pindoba por encomenda, criar capado e galinha. O dinheiro que ganhava com a atividade lhe permitia pouca coisa de diversão, uma delas era tomar umas cachaças na venda do Roldão, quando, então, comia fatias de mortadela e pão dormido. Nunca tinha afrontado ninguém e essa foi a primeira vez que teve de puxar a faca para se defender de uma agressão.

Quando conseguiram levar Tonico Amansa Corno para o hospital em Bom Jesus do Itabapoana, ele já chegou desencarnado, a alma desembarcada do corpo.

A polícia quis saber tudo das testemunhas e foi ao encalço do Manezinho Pindoba. Achado, preso e algemado, foi conduzido à delegacia da cidade, onde ficou mofando à espera de advogado. Naquela época não havia defensor público.

Alguns dias depois, apareceu por lá certo Dr. Crispim, mandado às escondidas por um dos desafetos de Tonico Amansa Corno, cujo nome foi debulhado na concha do ouvido de Manezinho, de modo a que o segredo fosse mantido.

Não deu dez dias e Manezinho Pindoba voltou à sua vidinha de tirador de folhas de palmeira, criador de porco e galinha e frequentador da venda do Roldão. O disse-me-disse que se fez à sua chegada foi logo sanado por uma frase simples, mas dita em tom firme:

- Araruta também tem seu dia de mingau.

Daí em diante, ninguém mais pensou em tirar farinha com Manezinho Pindoba.

Imagem em pinkland.com.br.