5 de agosto de 2011

UMA REVELAÇÃO NA VIDA DE GABI E BRUNO

Dia desses, meus dois netinhos vieram passar um dia conosco em Niterói. Moram eles, atualmente, na Barra da Tijuca, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro.
Preparávamos para levá-los de volta para sua casa. Gabriela (seis anos) e Bruno (dois anos), já prontinhos, aguardavam que terminássemos de juntar a tralha que crianças costumam atrair consigo, quando saem.
No quarto que fora de seu pai, ainda assim identificado em casa, Gabriela desenhava algumas das ideias maravilhosas que as crianças têm, e seu irmão, muito concentrado, mexia em seus brinquedos.
Cheguei para Gabriela e lhe disse:
- Gabi, escute aqui o que vou dizer.
Percebi que o minúsculo irmão também se interessou em ouvir. Avós, às vezes, têm declarações importantes a fazer. Nunca se sabe!
E disse o seguinte:
Um dia vestido
De saudade viva
Faz ressuscitar
Casas mal vividas
Camas repartidas
Faz-se revelar
Quando a gente tenta
De toda maneira
Dele se guardar
Sentimento ilhado
Morto, amordaçado
Volta a incomodar.
Ela me olhou com seus lindos olhos negros arregalados e, incrédula, perguntou, sem entender bulhufas:
- O quê?!
Com dicção mais clara e ritmo mais lento, repeti o texto da canção de Clodô e Clésio, gravada por Fagner em seu disco Eu canto (Quem viver chorará), 1978, CBS.
Ao final do bis, mais falado do que declamado, ela insistiu:
- Vovô, você inventou isso?!
- Não, Gabi! Isto é a letra de uma música muito bonita. – E cantei a música para eles.
Ainda incrédula, ela duvidou de que fosse verdade. Achou que tudo fosse invenção de avô, esse ser velhinho capaz de tramar histórias mirabolantes, apenas para entreter netinhos. E é justamente, nesses momentos, que os avós aproveitam para dizer para seus netos que eles jamais os enganarão; que jamais mentirão para eles; que eles, os netinhos, podem sempre acreditar no vovô e na vovó. Notei, então, naquele instante, que Bruno também ficou muito impressionado com o espavento todo que armei.
Dito isso, desafiei-os a ir até a sala, onde está o sistema de som, e lá coloquei o cd em que se gravou a música. Quis provar-lhes que não sou mentiroso.
Operou-se um milagre que a música é capaz de fazer. Eles gostaram tanto, sobretudo o Bruno, o mais pivetinho, que tive de repeti-la algumas vezes antes de sairmos e, por fim, levar o cd para que eles ouvissem a música durante a viagem, tantas vezes quantas as crianças gostam de repetir, ao terem prazer com alguma coisa.
E aproveitava a execução para chamar-lhes a atenção para a guitarra, magistralmente tocada por Robertinho do Recife. É que nunca sabemos o que rola em cabecinhas tão novas. Já fomos assim também, mas esse tempo ficou em nossa desmemória.
E seguimos nós, através da ponte Rio-Niterói, da Linha Amarela, a ouvir e a cantar, por quilômetros e quilômetros, Revelação*.
E isto foi uma saborosa revelação na pequenina grande vida de Gabi e Bruno.

(*Se quiser ver/ouvir a gravação orginal de Fagner, clique no link a seguir: http://youtu.be/KaBS_RYfRCU)


Bruno e Gabi, na Praça da Liberdade, em
Belo Horizonte, em 12/6/2011.

4 comentários:

  1. Quem não tem orgulho de dizer "isto ouvi do meu avô"? Dá-nos a sensação de que pertencemos a um tempo bem maior do que podemos ter.

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  2. Linda crônica, assim como seus netos, que tenho o prazer de conhecer, e a música. Mas você cantando, Mestre, só amor de neto para aguentar. Abraço!

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  3. Zatonio, você é muito maledicente. Deveria ser cortês como o Paulo Laurindo. Eu sou, praticamente, cover do Fagner em seus melhores dias.

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