Imagem em claudiacasella.blog.br. |
Mariana observava a vida através da última janela aberta para o mundo, quase rente à linha do chão. Todas as outras já haviam sido soterradas pelo peso da curiosidade. A sua, pouco a pouco afundando, lhe permitia conhecer ainda o que sobrara de todas as violências contra a pessoa humana. E, por isso, é que passava as horas de luz ali postada, ruminando imagens desgarradas, de sintaxe mal cosida, sobre os acontecimentos exteriores. Ela mesma não se aventurava a sair à rua. Os tempos estavam para não se viver.
Assim é que a janela passou a ditar-lhe o sentido dos fatos, oferecendo-lhe a só leitura das imagens sucessivas, sem palavras, sem retrocesso, sem videoteipe.
E ela se habituou a isso. Ou pior, ela se conformou com isso. O mundo, a vida, as pessoas, os fatos, os possíveis sonhos e as inescrutáveis misérias diluíram-se entre os caixonetes de sua última janela aberta sobre a inutilidade gritante de sua própria vida sem sentido.
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