não há caneta nem papel nem flores
tudo é lixo cinza e sofrimento
mesmo assim há um poema torto
que teima em se insinuar
e por detrás de cada pensamento
as palavras vão tomando seu lugar
II.
pois é
o dia terminou e ninguém ficou sabendo
que o transcendente
– este que está além daqui além de nós –
vende bugigangas numa banca de camelô
na esquina de quitanda com sete de setembro
e nós permanecemos por aí perdidos...
III. FILHA/FILHO
filha
assim assado vou te amando
sem recato sem cuidado.
filho
pereré-pão-duro sigo o rumo
atrás de ti. e vou seguro.
IV. PEQUENA CANÇÃO CONTEMPLATIVA
sobre a colina devastada
antes bela
olho o horizonte apocalíptico
e vejo o nada
meus olhos passeiam em vão no vácuo
que não ocupa o coração
dos mortos
Nilocas-Antoine Taunay, Vista do Rio de Janeiro, séc. XIX. |
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