Pode-se imaginar que não haja nada mais desestimulante, relativamente ao sexo, do que gramática. Pense em todas as regras da gramática prescritiva e suas famosas exceções e o desejo sexual. Nada a ver, não é mesmo?
No entanto não é bem assim!
Por exemplo, na linguagem jurídica, uma transa transforma-se em conjunção carnal, como é comum encontrar-se em textos de processos. E onde você mais ouviu falar em conjunção? Isto mesmo: nas aulas de gramática!
Vê-se, por aí, então, que a gramática não é propriamente um broxante linguístico. Aliás, a língua que se estuda pode, numa associação safada de ideias, virar um efetivo órgão de prazer. Há até uma definição de humor fescenino para língua, que não sei se você conhece, mas que não me custa repetir, na qual se misturam os dois sentidos: língua, órgão sexual que os antigos usavam para falar. Perceba que, cada vez mais, a gramática dá liga, dá jogo.
Por isso é que fui levado a fazer uma correlação entre o termo gramatical e a expressão jurídica.
Comecei imaginando o que seria uma conjunção carnal aditiva. Com toda a certeza, seria o famoso e básico papai-e-mamãe (ou são-pedro-e-são-paulo, para outros), quando se junta isso com aquilo, e está feita a liga. Veja que, em gramática, o e aditivo também é referido como conjunção copulativa. Olhe a sacanagem instalada aí!
Uma conjunção carnal consecutiva, por exemplo, seria aquela em que há gravidez como consequência e que produz efeitos nove meses após.
Já a conjunção carnal explicativa seria a da tentativa de explicar o inexplicável: Isso nunca me aconteceu antes.
A conjunção carnal alternativa é a que ocorre entre um sujeito e uma escapadela extraconjugal, coisa um tanto perigosa, até mesmo com parceiro de mesmo sexo.
Por sua vez, a conjunção carnal concessiva ocorre entre iguais, que se concedem práticas extragramaticais, ou entre diferentes, desde que tudo concedido, nada forçado: Vem cá, meu nego! Sou todo seu!
A conjunção carnal conformativa é a que está conforme o previsto: marido e mulher, depois de anos de casados, conformados com o sexo: Não tem tu, vai tu mesmo!
A conjunção carnal causal é aquela em que uma ideia, uma ação, causa a outra: Comeu, tem de casar!
Diferentemente, a conjunção carnal conclusiva estabelece a conclusão de um entrevero carnal, porque um/uma não quer mais; o/a outro/outra já partiu para uma nova relação. É a conjunção fim de caso.
A conjunção carnal temporal é mais ampla em seu sentido. Pode ser uma rapidinha no motel, ou no banco do carro; é uma conjunção mais longa, que gera direitos e deveres e, às vezes, filhos e pensão alimentícia. Antigamente gerava a tal teúda e manteúda, conforme a duração da conjunção. E até mesmo aquela que termina de modo violento, sujeito a temporais. Esta última situação acaba, normalmente, na Lei Maria da Penha.
A conjunção carnal adversativa, por sua vez, envolve relações sintáticas problemáticas. O parceiro, normalmente, passa a ser um adversário, devido ao status da conjunção e não quer mais saber do outro nunca mais. Ainda que esporadicamente tenham furtivo encontro. Como ex-cônjuges que ainda se pegam às escondidas, embora adversários no processo de divórcio.
Oposta a esta última, há a conjunção carnal integrante, que propicia a relação plena e satisfatória entre partes do enunciado sexual, fazendo sua integração perfeita, quase chegando ao orgasmo múltiplo, em sua fase mais eficaz.
Já no caso da conjunção carnal comparativa podem ocorrer duas hipóteses semânticas iniciais. Na primeira, dois parceiros iguais ficam comparando qual é o maior, por exemplo. Na segunda, os parceiros ficam comparando o prazer: Gostou? Eu gostei muito! E você? O que achou de mim? Sou melhor que ela/ele?
Semelhantemente a conjunção carnal proporcional é a que visa estabelecer proporção entre parceiros: baixinho com baixinho; gordo com gordo; alto com alto; bem dotado com bem aparelhado. Entre iguais ou diferentes, mas sempre mantendo a proporção, para que não haja prejuízo.
E, finalmente, a conjunção carnal final que é aquela que põe um ponto final definitivo em qualquer tipo de relação, sem que haja retorno: Pode procurar outra, que pra você acabou, seu traste!
Como você deve ter reparado, não dividi as conjunções carnais em coordenativas e subordinativas, porque, na hora do vamo vê, cada um é cada um e a posição é definida no momento, podendo variar durante a conjunção. Que também não vou chegar a me meter, com perdão da palavra, nesses pormenores! Cada um cuide de si!
A primeira Gramática da Linguagem Portuguesa, de Fernão de Oliveira, séc. XVI.Imagem: nocturnocomgatos.weblog.com.pt |
Hahahahahahahahahahahahaha...Genial!!!!
ResponderExcluirÉ por estas e outras que digo que és um mestre. Sabedoria e humor numa manhã de domingo faz um bem!
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