vejo-me esboçando-me mesmo sem mim
fora de mim
a consciência nula
apenas as pulsões naturais compondo o ser.
vejo-me caminhando falando sorrindo
quebrando a cara
atropelando-me em cada curva em cada esquina.
vejo-me atormentado por paixões e timidez
por mulheres que povoam meus delírios
meus encantos desencantos.
vejo-me tornado homem amante pai
e esta coisa mais ou menos tola
com que componho este jeito torto
de sustentar a vida.
vejo-me diante dos fatos das ideias
e da folha em branco sem ter o que dizer.
vejo-me por fim sem mim
ainda assim penando o desconforto
de ter perdido o corpo
e nada mais restar no fim depois de morto
nem mesmo uma alma assim, assim.
Na geografia da alma há lugares desertos ou lugares que ainda não foram mapeados pela alma, acostumada que está, por vezes, a passear por recantos familiares. É preciso que um dia a alma se perca para que possa, aos poucos, novamente se encontrar.
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