1 de agosto de 2011

UM EU FORA DE MIM

 
vejo-me esboçando-me mesmo sem mim
fora de mim
a consciência nula
apenas as pulsões naturais compondo o ser.
vejo-me caminhando falando sorrindo
quebrando a cara
atropelando-me em cada curva em cada esquina.
vejo-me atormentado por paixões e timidez
por mulheres que povoam meus delírios
meus encantos desencantos.

(O. Teruz, Crianças brincando, 1966.)
vejo-me contrito aflito.
vejo-me tornado homem amante pai
e esta coisa mais ou menos tola
com que componho este jeito torto
de sustentar a vida.
vejo-me diante dos fatos das ideias
e da folha em branco sem ter o que dizer.
vejo-me por fim sem mim
ainda assim penando o desconforto
de ter perdido o corpo
e nada mais restar no fim depois de morto
nem mesmo uma alma assim, assim.


Um comentário:

  1. Na geografia da alma há lugares desertos ou lugares que ainda não foram mapeados pela alma, acostumada que está, por vezes, a passear por recantos familiares. É preciso que um dia a alma se perca para que possa, aos poucos, novamente se encontrar.

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