8 de agosto de 2011

EXPLICANDO ALGUMAS EXPRESSÕES METAFÓRICAS

Todos que estudamos sabemos muito bem a distinção entre linguagem metafórica e linguagem referencial. A primeira, não custa repetir, é aquela que se vale de expressões cujo sentido tem similaridade com o real, embora ocorram com palavras que, com as crianças, por exemplo, podem levar a entendimento diverso. Seja o caso de abotoar o paletó, no sentido de morrer. A outra é o sentido próprio que a palavra tem, como morrer expressa o sentido de morrer, ora bolas!
Em vista disso, vou tentar explicar aos meus amigos leitores algumas expressões de caráter duvidoso, tanto no aspecto metafórico, quanto no referencial.

Reformar a área de lazer: Evidentemente que não se trata da bela, maravilhosa e vitaminada Adriane Galisteu na Playboy (ai! ai!) raspando novamente a sua área de lazer – a perseguida, após mais de uma década. Aqui se trata da ação profícua do síndico responsável, que vai cuidar do espaço usado pelos condôminos em suas atividades de lazer no prédio, nos momentos de ócio.
Alimentar esperanças: Esperança, essa virtude cristã que os cristãos transformaram em desejo de realizações materiais – casa na praia, viagem ao exterior e carro do ano –, obviamente não come nada. Simplesmente porque não é mamífero, réptil, pássaro ou peixe. Assim alimentar esperanças é atividade que exerce o pesquisador da natureza especializado em insetos – o entomologista –, que esteja fazendo trabalho com esperanças (Inseto ortóptero, de antena ger. mais longa que o corpo, pernas espinhosas e cor verde.*), grilos, louva-deuses e joaninhas. É preciso alimentar as esperanças, para que elas não abotoem o paletó antes do tempo, e a pesquisa chegue a termo.

Dividir a bola: Aqui, naturalmente, você pensará que se trata de expressão da linguagem futebolística e refira o lance vigoroso em que o zagueiro casca-grossa entre na disputa da bola com aquele atacante destemido. Não é este o sentido! Dividir a bola é o que faz o vizinho mal-humorado, quando pega a bola inadvertidamente lançada no jogo de crianças em seu quintal. Ele pega a faca, corta a pelota ao meio e a devolve aos pimpolhos, gritando: “Isso é para vocês aprenderem a incomodar os outros!”
Abandonar a carreira: Esta expressão, como a maioria há de pensar, não refere o fato de, por exemplo, Maradona ter deixado de ser jogador profissional de futebol, ou de qualquer ator ter deixado de representar suas peças e novelas. Antes diz respeito, também por exemplo, a Maradona ter largado o hábito de detonar carreiras e carreiras de certo pó branco. Ou mesmo a qualquer outro ator de teatro ou novelas. O que dá no mesmo, em sendo eles assim assaz diferentes em gênero, número, grau, porém semelhantes na cafungação.
Não é a lua (imagem em
contextolivre.blogspot.com).

Tapar buracos: Já esta expressão tem sentido totalmente metafórico, visto não fazer qualquer referência à fictícia atividade do Ministério das Trapaças, ou melhor, dos Transportes em recobrir os buracos das péssimas rodovias nacionais, as BRs, mas sim à nossa Presidente nomear novos servidores de honestidade comprovada e ética acima de qualquer PR, para ocuparem as vagas deixadas por antigos pilantras e salafrários que abusaram da boa fé do PT e se locupletaram com o dinheiro público, conforme amplamente divulgado e a legislação acoberta.
E aí, Mano, firmeza, meu?: Este tipo de cumprimento, muito comum em Sampaulo, aquela cidade que alaga durante o programa do Datena só para dar audiência, não é dirigido a um igual, a um brô, como se diz no Rio de Janeiro, esta cidade linda e maravilhosa cujo nome está para ser trocado para Bueiros Aires. É, ao contrário, o cumprimento dos jornalistas, ao participarem da soporífera e monocórdia entrevista coletiva com o atual técnico da valente seleção canarinho, o Mano Menezes, para explicar o fracasso em mais um jogo.

Arrebentar a boca do bueiro: Esta frase recém-criada substitui, na região metropolitana do Rio de Janeiro, capital do Estado do Rio de Janeiro, a antiga e desgastada expressão arrebentar a boca do balão e será usada nos mesmos contextos. Até porque, com o trabalho eficiente da polícia (hahahaha!), ninguém mais solta balões na região (hihihihihi!). Aí a expressão se tornou obsoleta – em Linguística, arcaica – e não se justifica mantê-la, quando há outro referencial – os bueiros da cidade – que lhe dá a base semântica.
Pinta lá em casa!: Esta frase já significou o desejo que o falante – carioca, pois não? – expressa em ter o ouvinte – outro carioca, seu amigo – como convidado em sua casa, para uma visita, um cafezinho, uma cerva gelada. Agora só é usada para combinar com o pintor de paredes, para fazer a nova pintura do bangalô, que anda mais sujo do que o Congresso Nacional. É que, ao usar a frase, nunca ocorreu que o ouvinte pintasse na casa do falante, porque não era realmente o desejo deste último. Uma coisa assim um pouco complicada para outros brasileiros entenderem, mas que, no fundo, significa: eu finjo que te convido e você me engana que vai (mais ou menos isso).


(*Definição do Dicionário Aulete online – aulete.uol.com.br.)

2 comentários:

  1. Dar com os burros n'água, já significou que algo deu errado nalguma pretensão. Contudo, nos EUA de hoje, indica rebaixamento para a segunda divisão e iminência de calote.

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