7 de maio de 2011

O CASAMENTO

Queriam um casamento completamente diferente de todos os que já haviam ocorrido em todos os tempos. Em primeiro lugar, não seria nem na igreja, nem no cartório, mas no botequim do seu Manuel. Em segundo lugar, sem padre e sem juiz de paz. O próprio seu Manuel celebraria a cerimônia entre copos e garrafas, com aquele avental encardido e aquele pano imundo no ombro. Em terceiro lugar, sem testemunhas. Ou melhor, só testemunhas de acusação, que diriam um texto que escreveram, acusando o casal das maiores vergonhas acontecidas no universo. Em quarto lugar, nada de bebida alcoólica. Só café com leite e mate gelado. De comida, rosca baroa e broa de fubá. Em quinto lugar, no horário das seis horas da manhã de uma segunda-feira. Ela, a noiva, vestida de gari da Comlurb; ele, o noivo, vestido de periguete da Lapa. Na hora da cerimônia, a Marcha fúnebre de Chopin e Vida bandida de Lobão. Como beijo, uma cusparada na cara. Os presentes dizendo apenas “bem feito”, como parabéns, e atirando pedaços de notas antigas de cem e duzentos cruzeiros.
Imagem em sopadearua.com.
No dia e na hora marcados, ninguém compareceu. Nem mesmo os noivos. Só chegaram vinte e quatro horas depois, conforme a imprevisão geral. Casaram-se, assim, na terça-feira e foram passar a lua de fel em Cubatão, cheirando pó, comendo tachinhas e minhocas.

Filhos não teriam, por incapazes. E viveram às porradas, enquanto durou o resto do mês.
Como era mais ou menos de se esperar. Ou não!

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