20 de maio de 2011

COMO SE PARECEM OS POETAS

Como se parecem os poetas
Mesmo diferentemente uns dos outros!
Cantam os mesmos amores fracassados
Gritam contra a solidão das galáxias no fundo de um quarto
Comemoram suas derrotas pessoais
E os anseios da multidão que
Reunida na praça clama por direitos
E aspira à derrubada de governos
Assim como lamentam a derradeira gota de sangue
Perdida sobre a brancura imaculada do lençol de linho.

Mesmo eu que não sou poeta
Vivo às turras com certos versos
Que pululam na minha cabeça sem cerimônia
Na fila do banco
Dentro dos veículos
Na balada das ruas
Durante o banho
E se deles me lembro depois
Anoto - como estes agora - para que não se percam
Por entre os mais desatentos neurônios
Do meu cérebro vertiginoso.
Pode ser que um dia se tornem poemas.
Nunca se sabe!

C. Portinari, Flora e fauna brasileiras,  1934 (portinari.org.br).

2 comentários:

  1. De volta, e sem falsa modéstia, sua, uma lindeza sem par.

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  2. O legal disto tudo é que, aquilo que começa quase que como uma brincadeira, acaba virando um ofício.

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