28 de maio de 2011

ALGUMAS FRASES QUE PODERIAM SER CÉLEBRES

Retrato falado do vendedor
que bateu à minha porta
(gartic.com.br)
Comprei, há pouco, uma parafernália eletrônica oferecida na minha porta por vendedor bem apessoado, bem vestido, bem escanhoado, que me garantia que ela era capaz de recuperar os sons primários do Universo.
Como sempre fui muito interessado por essas coisas, paguei o que me foi pedido e tratei de ligar a tralha. Porém, em vez de captar os barulhos produzidos pelo Big Bang primordial, como esperado, ela começou a captar frases ditas em diversas épocas e oportunidades, por personagens famosos e nem tanto, as quais, parece-me, podem explicar muitos fatos e acontecimentos da história da humanidade.
É preciso informar que, cada vez que ligo a traquitana, ela capta em modo aleatório os sons que tiveram sua frequência atenuada, mas que não se perderam e continuam a vagar no espaço. Por isso é que as frases não estão na ordem cronológica de sua produção.
Eis algumas.
- Amaury, glamour aqui em casa não! Por que você não lavou a panela em que fez o mexido ontem à noite?! (Mulher do Amaury Júnior, em casa, no domingo de manhã, depois de uma carraspana no high-society paulistano em que a comida só fez figuração, fazendo com que a fome noturna fosse aplacada com o mexido das sobras da geladeira e guaraná natural.)
- Sexta-feira, no mais tardar, eu pago minha dívida com você, Gamaliel. Hoje mesmo, vou fazer um servicinho extra que me vai render as trinta moedas que lhe devo. (Judas Iscariotes, para Gamaliel, proprietário de empório em Jerusalém da Galileia, em que o primeiro comprava com caderneta de fiado.)
- Quincas, veja bem esse grupo com quem você anda se encontrando às escondidas. Veja bem, Quincas, pois até Cristo, que era filho de Deus, encontrou um traidor. (Amigo carioca de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, em casa de quem este estava escondido nos primeiros dias de maio de 1789, um pouco antes de se encontrar com Joaquim Silvério e ser preso.)
- Luisinho, se com os dez dedos você só chegou a metalúrgico, com menos um e sem estudo você não conseguirá mais nenhum emprego na vida, visse! Você vai ter de ser sindicalista, visse! (Dona Eurídice, ao seu filho Luís Inácio da Silva, logo após o acidente em que ele perdeu o dedo mínimo da mão esquerda.)
- Isaac, não me venha com essa desculpa de que teve uma grande ideia, quando a maçã caiu na sua cabeça. Peguei você novamente dormindo no pomar, seu preguiçoso! (Hannah Ayscough Newton, mãe de Isaac Newton, ao procurá-lo por toda a casa, em Woolsthorpe, e ouvir dele a teoria da lei da gravitação universal.)
- Mamãe, aposto com a senhora que aquele miserável do Pedro não foi nada para as Índias. Aposto que se desviou e foi para alguma praia de nudistas e depois vai chegar aqui com histórias mirabolantes, cheio de novidades. (Dona Isabel de Castro, noiva e futura esposa de Pedro Álvares Cabral, já preocupada com as viagens constantes do gajo.)
- Karl, você sempre com essa mania de redigir manifestos. Pare com isto!  Vai fazer alguma coisa para ganhar dinheiro! Aposto que este também não vai ter a mínima repercussão! (Jenny von Westphalen, esposa de Karl Marx, preocupada com as péssimas condições materiais para a criação dos cinco filhos do casal.)
- Giordano, sem querer fazer piada de mau gosto, você ainda vai-se queimar com estas ideias revolucionárias que anda proclamando aos quatro ventos. Cuidado com essas ideias estapafúrdias! (Giovanni Mocenigo, comerciante veneziano que, não atendido por Giordano Bruno em suas pretensões, alertou vagamente o filósofo, para a traição que ele próprio lhe armaria.)

Desenho por Tinoni
(casadotinoni.blogspot.com)

- Nero, menino peralta, pare de brincar com fogo! Você ainda vai acabar incendiando a casa! (Agripina, mãe do futuro imperador romano, já dado à pirotecnia desde menino.)
- César, não sei por que você foi trazer da Gália esse punhal de presente para o Brutus. Esse menino anda metido com uma turma barra pesada e pode acabar fazendo mau uso dele. (Calpurnia Pisonis, esposa de Caio Júlio César, imperador romano.)
- Pai, tendes certeza de que esta missão que me dais naquele minúsculo planeta azul sem importância, perdido na Via Láctea, vai dar certo? Aquele povo é muito atrasado e hostil, Pai. Mas, se é assim que quereis, seja feita a vossa vontade. (Vocês sabem quem são os interlocutores.)
- Não venha com essa desculpa de que vai sair com os amigos só para lascar umas pedras, Neandertal. Sei muito bem que você vai se meter a caçar mamutes e tigres-de-dente-de-sabre. Olhe que você tem filhos pra criar. Pense no futuro, homem! (Mulher das cavernas, já cansada de ouvir desculpas do homem das cavernas, que não tinha nenhuma perspectiva de futuro para a raça e só gostava de ir à caça. [Ainda não havia futebol na época e os botequins não tinham sido inventados.])
- Estou vendo aqui na sua ficha cadastral, Sr. Santos Dumont, que o senhor solicita empréstimo para custear projeto que tem como objetivo fazer uma máquina mais pesada que o ar voar, não é mesmo? Infelizmente, Sr. Dumont, o nosso banco não vai investir num projeto inviável desses. Isto está fadado ao fracasso! (Gerente de agência de um banco de Minas Gerais, sem acreditar nos projetos visionários de Alberto Santos Dumont.)
- Zifio, num aconseio ocê chamá o povo pra botá as cô da bandera nesse domingo. Esse domingo num tá bão, zifio! Pode dá tudo errado. Os caboco tão me dizeno que isso pode dá confusão, zifio. Pensa notra coisa. Essa ideia tem tudo pra dá xabu, zifio. Oia o que ô todo dizeno, zifio. (Pai de santo, com terreiro perto da Casa da Dinda, durante sessão, para um ex-presidente teimoso que tivera a grande ideia de chamar o povo para apoiá-lo, vestindo as cores da bandeira do Brasil, num domingo feliz em 1992.)
- Majestade, o Sindicato dos Padeiros pediu para informar que não há mais farinha para os pães e os brioches. Sem pão, o povo fica revoltado, e isso é um perigo, Majestade! (Visconde de Calonne, ministro, ao rei Luís XVI, no dia 13 de julho de l789, em Versalhes, nos arredores de Paris, França, antes de o caldo entornar, a jiripoca piar e a chapa esquentar em bleu, blanc, rouge.)

2 comentários:

  1. Cara, acabei de escrever que levar-se à sério é só metade da piada. Muito bom, Saint-Clair!

    ResponderExcluir
  2. Ô, Mestre, quer me emprestar a máquina? Como disse o Paulo, muito bom.

    ResponderExcluir