9 de maio de 2011

PROCESSO HUMANO

não são os deuses que conduzem meu destino
nem o vento
sou apenas um átimo de segundo
neste universo infinito do não-tempo.
nem mesmo são minhas tantas quedas
nem meus sonhos ou desesperos
talvez eu rode a esmo
voltando sempre ao mesmo ponto.
nem são os homens que me espremem contra a parede
nem as leis
talvez os medos.
desta altura não me contemplam séculos
pois sou uma pálida visão de mim mesmo.
não são os improváveis desígnios e presságios
que podem me empurrar ou me reter
mas eu
assim sem fibra ou vibrante
que converto cada instante em desatino
ou me chafurdo na lama
reinventando todo o meu processo humano.
(Tarsila do Amaral, Antropofagia, 1929.)

2 comentários:

  1. Arrepiou-me. Pleno domínio da forma e do conteúdo. Mais um pra favoritar. Pra ler todo dia, de preferência pela manhã, a tarde e à noite que é como convém a um tratamento de verdade da minha alma conturbada.

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  2. Talvez tenhas razão, amigo Saint-Clair!...
    Também gosto da pintura!

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