17 de janeiro de 2011

VALE DO CUIABÁ, UM VALE DE LÁGRIMAS


Quinta da Paz, Vale do Cuiabá, Petrópolis, em viajandocomlucianadias.blogspot.com.

Apaixonado por serras, por diversas vezes, estive com minha mulher, Jane, em Itaipava, como no último fim de ano.
Formos lá passar um réveillon tranquilo, como era o desejo dela.
De todas as outras vezes, embora tivesse notícias da beleza do Vale do Cuiabá, nunca lá estivéramos, até que, no último dia do ano, pelas dezessete horas, chamei-a para irmos conhecê-lo.
Com o horário de verão, a escuridão da noite custa mais a chegar, e, como o Vale é bem próximo de Itaipava, não nos preocupamos com a viagem, porque ainda teríamos cerca de duas horas para desfrutar do passeio.
Chovia fraco. Aliás, foi no dia 31 de dezembro que a chuva começou insidiosa sobre a serra.
Percorremos um bom trecho da Estrada das Arcas, no Vale, visualizando as belas paisagens, as propriedades elegantes, as casas simples, as pousadas de charme, cada curva, a natureza exuberante, o riozinho suave que faz zigue-zague por entre a vegetação e empresta seu barulho à tranquilidade daquelas paragens.
Logo no início da estrada, localiza-se a fábrica da cerveja Cidade Imperial, de pequeno porte, que lamentei não estar aberta, para poder visitá-la. Mas comentei com minha mulher que, numa próxima ida a Itaipava, voltaríamos com essa finalidade. Gosto de fermentados e destilados, com a temperança com que devem ser degustados.
Ao final da ida, empreendemos a volta, mais tranquila, observando melhor cada detalhe paisagístico. Paramos para conhecer a Pousada Tambo Los Incas, onde fomos recebidos de forma cortês pelos funcionários, que estavam nos preparativos para a festa da virada do ano a acontecer à noite.
Na recepção da pousada, que conhecia por reportagens em revistas de viagem e pelo sítio na Internet, pudemos observar a coleção de obras de arte e artesanato, que davam o tom característico ao ambiente.
O funcionário que nos atendeu informou-nos que o restaurante da pousada estaria aberto no dia primeiro e era franqueado ao público. Ficamos de voltar, para lá almoçar, mas não o fizemos, porque fomos a Petrópolis naquele dia. Comentamos que não faltaria oportunidade para nova visita, ou, quem sabe mesmo, para um fim de semana lá hospedados.
Depois de algum tempo, saímos e paramos na lojinha da pousada que ficava ao lado da entrada, bem de frente à estrada, onde compramos alguns produtos. Era de se admirar sua qualidade, a variedade e a qualidade dos vinhos e demais bebidas.
Saímos de Itaipava, de volta a Niterói, antecipadamente, deixando crédito no pacote, a ser usado posteriormente.
O céu já tinha começado a dar mostras de que despejaria sobre a Região Serrana fluminense o turbilhão de dor, desespero e morte, de proporções catastróficas.
Depois de tudo o que temos visto, pode-se dizer que uma das mais belas paisagens do Estado do Rio de Janeiro ficará com cicatrizes tão profundas em sua geografia e em seu povo, que passarão muitas gerações para que elas sejam esquecidas.
Eu e Jane voltaremos lá a qualquer momento, mas não mais encontraremos o Vale do Cuiabá como antes. E tenho quase a certeza de que para nunca mais em nossas vidas.

Vale do Cuiabá, Petrópolis, após a tragédia, em extra.globo.com.

8 comentários:

  1. Para os que não tiveram a felicidade de ver com os próprios olhos, que nos sirva de registro.

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  2. Se tem um lugar que possuo raizes, esse lugar chama-se REGIÃO SERRANA. Tamanha beleza, tamanha cicatriz encrustou-se no povo e neste lugar. Mas acredito na regeneração; no respirar profundo embusca do fôlego para continuar a labuta diária e a vida prosseguir. Quem sabe com melhor sabor; quem sabe com mais respeito ao solo que se pisa e pela moradia que se abriga.
    Torço pelo fortalecimento do Vale de Cuiabá e tenho fé que poderemos, sim, comtemplar a beleza natural de um vale.

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  3. Desculpa pelo "comtemplar" (contemplar)

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  4. Obrigado pelo depoimento, Aline. Procurando posteriormente mais informações, descobri que ainda há locais que ficaram à margem da catástrofe. E também sabemos da fibra do brasileiro. Haveremos de recuperar nossas serras.

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  5. Texto lindo! Ao passear pelas linhas escritas, me senti naquele lugar, sentindo o frescor do ar, o som do Rio, me fazendo por alguns instantes, esquecer no que se tornou tudo isso.

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  6. Tenho fé na recuperação, Saint-Clair. Mediante a tamanha devastação, também foi possível ver tamanhã união nas pessoas em querer ajudar. Foi possível ver a vontade de alguma forma ajudar a região serrana.

    E só pra adicionar: concordo com a Sassá. Seu texto é lindo. Vi-me naquelas curvas da serra, com o frescor e o sorriso que todo aquele verde pinta em meu rosto. Fiquei fã deste blog.

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  7. Obrigado e bem-vindo ao blog, Sassá. Como disse Aline, acreditamos que daqui a pouco tempo tudo estará recuperado, pela força das pessoas que de lá tiram sua vida.

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