6 de janeiro de 2011

NATUREZA MORTA

a mosca apenas toca o rosto inerte
dentro do ataúde roxo
sobre a mesa restos de bolo um bule de café insulso
frutas orvalhadas da geladeira
xícaras sujas borrões na manteigueira
as mãos do morto cruzadas sobre o busto
as faces crispadas fendidas pela dor
no peito dos parentes derrotados
na parede da sala um velho retrato
em viragem sépia
dos tempos de outrora
da janela o som dos corvos e das gralhas urubus rondando o teto
no fundo da cova úbere da terra
multidões de vermes aguardando o corpo
Natureza morta de Vanitas, Pieter Claesz, 1630.
nos olhos dos não-mortos e nas bocas
o amargor ressequido do desgosto

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