Em bloguistoria.blogspot.com |
Sendo da família Miramor, não poderia chamar-se Romarim. Dessem-lhe outro nome, pombas! Criaram um palíndromo com seu nome: Romarim Miramor. Uma maldade que não se faz nem ao pior inimigo! E tudo passado em cartório, com certidão selada e firma reconhecida, mesmo após correição da Corregedoria de Justiça.
Por isso, é todo ao contrário. Desde o nascimento. Se o mundo é sim, ele é não. Se o mundo é não, ele é sim. Coisa, assim; ele, assado. Coisa, assado; ele, assim. Não porque queira. É da sua natureza controversa, da sua índole oposta. Tudo em contramão.
Ouvia sempre dos outros: Esse menino nasceu de vento virado, de ponta-cabeça. E era fato.
Todos nascem de cabeça, ele entrou na vida com os dois pés plantados na porta de saída, a pobre mãe se contorcendo em dores. E mesmo assim ninguém atinou com nada.
Recém-nascidos choram, ele riu. Em velórios, só ele ri, enquanto os outros choram. Foi às gargalhadas incontroláveis, quando viu o trem do ramal de Deodoro sobre um fusquinha cinza, numa passagem de nível, com cinco cadáveres esmagados entre as ferragens. Teve de sair correndo, para não ser linchado. Em festas de bodas, quinze anos, formatura, chora como um bezerro desmamado. Tornou-se até inconveniente. Passou a não ser mais convidado. Persona non grata.
Teve aderência nos intestinos, mas a retina se descolou. Com sopro no coração, ficou sem ar. Apareceu-lhe água na pleura, no entanto a boca secou: xerostomia. Deu gota no pé, porém o rim parou de funcionar, nem gota de urina saía. Se espirra e tosse, é porque está bem de saúde. Ao contrário, está acometido de gripe. É o maior perna de pau nas peladas de futebol com os amigos, e vive com pé de atleta. Teve espinhela caída, justamente quando subiu na função que exercia na empresa onde trabalha. A língua é presa, mas o intestino é solto. Se mira, erra. Se atira aleatoriamente, mata a porca e o leitão. Se elogia uma mulher, soa ofensivo. Se ofende, ela se apaixona.
É a praga do nome em palíndromo a (des)nortear sua vida!
Com tudo isso, ainda assim, conseguiu namorar, noivar e casar com uma vizinha esguia e bem apessoada, mas também de nome estranho: Marília Ailiram.
A sua vida passou a ser de mão e contramão, como numa estrada moderna. Enquanto um traz o milho, o outro já vai com o fubá. Um é a corda; o outro, a caçamba.
E lá vão os dois tocando a vida: palíndromos humanos a se ajustarem na ida e na volta. Ou vice-versa. Quem saberá?
E lá vão os dois tocando a vida: palíndromos humanos a se ajustarem na ida e na volta. Ou vice-versa. Quem saberá?
Desconfio que este palíndromo humano deve torcer para o Botafogo, certo?
ResponderExcluirQue texto incrível! E o Zatonio pode mesmo ter razão, rs.
ResponderExcluirAbração.
Conheci um rapaz lá nos 80 do século passado que tinha verdadeira obsessão em ler as palavras de trás pra frente. Dizia que está leitura poderia nos dizer sobre o oculto das coisas. E o oculto das coisas está justamente nesta possibilidade de anular os extremos através do simples uso do espelho.
ResponderExcluir