Queria ter, inteira ao meu dispor,
Aquela dor contida em tua pele
E o dissabor que cada poro expele,
Como se fosse diário desjejum.
Alimentar-me, então, com tal sabor,
Do frio intenso que teu corpo exale,
Calar-te a voz, ainda que não fale.
Ou, se falasse, fosse qualquer um.
E, à noite, a ceia, que assim sorvesse,
Pudesse ter, em cada sorvo estranho,
As amarguras que por tuas veias
Correram tanto, por tempo tamanho.
E assim o sangue que eu, enfim, bebesse
Me libertasse dessas tuas peias.
Almeida Júnior, O descanso do modelo, 1882. Museu Nacional de Belas Artes, RJ. |
Pretensioso não é: é cirúrgico.
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