5 de janeiro de 2011

NO TEMPO DA POMADA JAPONESA

A renomada pomada japonesa
de tão grandes serviços à
causa dos amores possíveis.
Raphael, assim mesmo com ph a lhe denunciar a data antiga do nascimento, aumentava seu calo na barriga na função de zelador da Escola de Teatro Martins Pena, lá pelos meados dos anos 70, ainda no auge da ditadura militar que nos assolou por décadas.
Era lá um senhor, à época, já com seus quase sessenta anos, montado em apenas um metro e sessenta de pessoa do pé à cabeça, se tanto, e com talvez a mesma medida na circunferência do vultoso abdômen, que fazia questão de cultivar com cervejotas tomadas durante o período das aulas noturnas.
A Escola de Teatro Martins Pena funciona, ainda hoje, em um antigo casarão que pertenceu ao escritor Coelho Neto, localizado na Rua Vinte de Abril, nas proximidades da Praça da República, antigo Campo de Santana, nome inclusive muito mais simpático que o atual.
As cercanias, por esse tempo, eram uma conjugação perigosa de botequins e hoteizinhos suspeitos, cuja finalidade era dar abrigo aos corações vadios que procuravam se acasalar antes de tomar a condução para seus respeitosos lares.
Raphael conhecia e frequentava quase todos, pois tinha engatilhada em sua lábia uma certa dona de caprichosos contornos corporais, idade bem menor que a dele e, talvez, certa volúpia que a mal curada juventude lhe dava. Ele caía de amores por ela, mas só nessa de ir lá, “comparecer”, como ele dizia, com alguma dificuldade, já que o fogaréu que ilumina os céus das noites de São João tinha ficado num tempo pretérito. E por essa época ainda não havia a tão afamada pílula azul, cujo nome não declino aqui para não fazer propaganda desautorizada.
Deu-se, então, que apareceu no mercado informal, desses que se aboleta em qualquer esquina, sobre qualquer calçada, uma tal pomada japonesa, capaz de operar milagres de ereção no mais provecto usuário. Essa mercadoria, evidentemente, entrou na cidade pelas vias tortas do contrabando e era vendida à boca pequena – ou quase. É que havia um camelô na esquina de São José com Quitanda, especializado em baralhos importados, que passou a oferecê-la, assim que chegou à praça. Era engraçado vê-lo metido em seu terno escuro, gravata bem ajustada ao pescoço, anunciando os produtos:
- BARALHOS DE PLÁSTICO, BARALHOS DE NYLON, pomada japonesa.
Assim mesmo, gritando as duas primeiras pechinchas e diminuindo o volume vocal para anunciar a novidade do momento, no intuito de não chocar senhoras e senhoritas que por ali transitavam. E isso na década de 70. Por aí, vocês podem ver como a cidade se degradou posteriormente. Hoje se vendem calcinhas e sutiãs provocantes em bancas a céu aberto, sem o menor constrangimento.
Pois muito bem! Raphael resolveu, então, satisfazer a gula de sua parceira e adquiriu no comércio próximo a tal pomada milagrosa. Naquela noite, falou para os que sabiam de suas tramoias amorosas:
- É hoje que ela vai ver! Não vai poder reclamar. Vai ter o que quer. Ô mulher insaciável!
No dia seguinte, procuramos Raphael para tomar umas e outras e saber dele o que sucedera depois do expediente das aulas noturnas, no hotelzinho de frente para o Campo de Santana.
Sem ter lido a bula da pomada, Raphael passou a mais não poder o remédio em sua área de lazer. A resposta, segundo ele, foi quase imediata. A parceira entrou em tal euforia com o desempenho dele, que teve de ser mandada embora, a fim de que o patrimônio não sofresse dilapidação por excesso de uso, seu proprietário já exausto com a farra que ela fazia.
Depois que ela foi embora, Raphael ficou com um verdadeiro pepino na mão – com perdão do trocadilho infame: não havia meios de o negócio abaixar, ter um sossego, por mais que seu atarantado dono entrasse embaixo do chuveiro frio daquele quartinho acanhado de hotel.
Como começasse a se sentir mal, dada a concentração de sangue na indigitada área, não encontrou outra solução senão atravessar a rua, em direção ao Hospital Souza Aguiar, aonde chegou envolvido na toalha do hotel, tentando disfarçar o volume incomodativo, a fim de se socorrer da medicina alopática, com o intuito de pôr um ponto final naquele desespero.
E contou isso às gargalhadas, mas com a promessa de que, dali por diante, cardíaco que era, passaria a ter mais cuidado com a pomada japonesa. Que aquilo era de levantar defunto frio. Ora, se era!

2 comentários:

  1. Hahaha...eu me lembro dessa pomada, fez muito sucesso na época, embora não precisasse de seus efeitos, estava na flor da idade, o rebelde subia até pra bananeira. Nem vem que vossa eminência entendeu direitinho, frequentador que era das bananeiras carabucetenses...

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  2. NO hospital, que tratamento teve o Raphael? Sangria?

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