25 de janeiro de 2011

A MIRACULOSA LOÇÃO CURATIVA DO ROBÉRIO

A infestação de pulgas na pensão provocou uma série de problemas nos rapazes que moravam no segundo andar do estabelecimento. Ninguém ficou livre de levar ferroadas por todas as partes do corpo, sobretudo nas chamadas partes pudendas, também conhecidas vulgarmente como países baixos. Por isso, quando foi a Bom Jesus passar a Semana Santa daquele ano, ele se dirigiu à farmácia, na Rua Tenente José Teixeira, e relatou ao amigo boticário a novidade. Seu sacro escrotal estava em petição de miséria. Não aguentava mais o incômodo. Segundo ele, a coceira já estava até abrindo brechas na pele da região do entorno do dito cujo.
O amigo riu muito e prometeu-lhe um remédio poderoso, desses de não deixar pedra sobre pedra, ou melhor, pulga sobre pulga. Foi lá dentro, no laboratório, e, após cerca de meia hora, voltou com um vidro escuro com uma loção de uso tópico, a ser aplicada na zona infestada, logo após o banho. Recomendou ainda que enxugasse bem o local, a ser lavado com sabão de coco, e aplicasse o líquido em seguida com um algodão bastante empapado. Seria tiro e queda!
- É garantido mesmo?
- Tou falando: é tiro e queda, cara!
Pegou o remédio, pagou e foi-se embora.
Imagem em emule.com.br.
Chegou à casa dos pais, mas não comentou nada sobre o problema. Tinha lá seus pudores a preservar.
A mãe, no momento, preparava o jantar, quando foi para o banheiro, ao lado da cozinha da casa simples.
No banho, até cantou Martinho da Vila: “Felicidade! / Passei no vestibular/ Mas a faculdade / É particular...”, que fazia um baita sucesso Brasil afora. Ao fim do banho, passou enrolado na toalha pela cozinha e foi para o quarto, onde deixara a loção milagrosa, a esperança para todos os males que o assolavam. “Particular! / Ela é particular/ Particular! / Ela é particular...” Secou bem as partes como recomendado. Preparou um chumaço de algodão e empapou com uma porção generosa daquele líquido cor de âmbar, de cheiro agradável de remédio manipulado. Com vontade e disposição, esfregou o chumaço na zona conflagrada. Em seguimento, o urro que saiu de sua garganta foi coisa de se ouvir do outro lado da rua, até por cidadão auditivamente prejudicado, talvez mesmo do outro lado do rio Itabapoana, lá para os lados da charqueada. De imediato o saco murchou, embutindo as duas bolotas que ficam penduradas nas adjacências. Mais rápido que uma Ferrari Testarossa, saiu em disparada pelado casa afora, até chegar, de novo, ao banheiro, onde abriu o chuveiro com vontade e se lavou com sabão de coco, o tempo necessário para minorar um pouco a sensação de queimação que se abateu sobre aquela pobre região corpórea, quase tudo reduzido a proporções microscópicas, talvez só acessíveis naquele instante por pinças de tirar sobrancelhas de mulher.
Eneko, El grito, colhido em diaadia.pr.gov.br.
A mãe assustou-se com o estardalhaço e perguntou ao filho o que estava acontecendo, que desatino súbito era aquele, que possessão diabólica seria isso, Deus do céu!
Deixando a água fria aplacar a sensação horrível, explicou à mãe o sucedido: tinha sido o maldito remédio que o Robério lhe receitara o causador daquele furdunço todo.
Ao final de mais uns vinte minutos embaixo d’água, pediu à mãe que lhe levasse a toalha, esquecida no quarto no atabalhoamento de voltar ao banheiro.
No dia seguinte, foi até a farmácia reclamar com o amigo sobre o resultado da aplicação de tão malsinado remédio e a falta de aviso sobre isso, coisa de poder ser reclamada em repartição judiciária, com petição assinada por advogado de banca estabelecida.
Robério riu solto e esclareceu:
- Se eu lhe dissesse o que aconteceria, você não teria coragem de usar o remédio. Mas garanto que não terá mais coceira. Garanto só, não! Até aposto um dinheiro!
Dito e feito. Nunca mais a coceira voltou, escorraçada que foi por um remédio que era parente próximo da bomba de Hiroshima, mas o efeito colateral do encolhimento das partes foi um trauma para lá de recalcitrante. De durar dias!
Esse povo de botica inventa cada remédio, que Deus me livre!

4 comentários:

  1. Era pulga mesmo ou o amigo está usando de licença poética? Sim, porque nesta tenra idade costumávamos ser incomodados por coisas muito mais cavernosas.

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  2. Minha vó já dizia, o que arde cura, o que aperta segura.
    Um bj querido amigo

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  3. Sei não, mas acho que conheço o desinfeliz que foi atacado pelo chato das pulgas. História muitíssimo bem contada, como sempre, mas mal contada ao esconder a vítima do Robério...hahaha...

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  4. Morro, mas jamais direi que era eu! Hehehe! Fica só entre nós. E acho mesmo que o princípio da cura foi esse que a Gisa destacou.

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