sabe, cidadão, que o seu sorriso não me engana
que a sua pose de bacana não me ilude
que o seu terno de tropical inglês não me encanta
que a sua conta bancária é quase um crime
que o seu carro importado e o seu iate
são despropósito e disparate
enquanto há outro cidadão aí alhures?
sabe, cidadão, que o seu sorriso é feio desdentado
que a sua pose de bandido me confunde
que o seu trapo pelo corpo é quase nada
que o seu estômago vive de futuro
que o seu barraco o vento leva com a chuva
que os seus pirralhos não veem o fim do túnel
enquanto há outro cidadão aí abutre?
está sabendo, cidadão?
Júlio Pomar, O almoço do trolha, 1950 (em enciclopedia.com.pt). |
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