A anatomia humana vem sendo estudada desde os homens da caverna, que cedo aprenderam o melhor lugar para arriar o tacape no desafeto: a cabeça.
Daí para cá, foi um sem número de estudos que, passando pelo conhecimento de zagueiros cascas-grossas¹ das canelas de atacantes adversários, mais e mais, culminaram hoje, por exemplo, com as intervenções cirúrgicas do Dr. Hollywood², que estão aí para não me deixar mentir.
Neste processo evolutivo do conhecimento do corpo humano, o que ficou claro é que, quanto mais se o conhece, menos as mulheres gostam do seu próprio, e tocam a fazer remodelagens no que, em princípio, está bem acabado e dentro dos conformes. Nesta esteira, há alguns homens, inclusive, que também assim agem e chegam ao cúmulo de extirparem peças que lhes foram destinadas pela natureza, a fim de que fiquem mais parecidos com o sexo oposto, suprimindo, destarte, a oposição. Mais ou menos por aí.
Isto, assim, comprova, pelo menos perfunctoriamente, que a anatomia feminina é mais adequada, mais agradável, mais completa, ainda que lhe fique faltando o apêndice que o gênero masculino traz dependurado. O que, na verdade, é compensado, com maior ganho estético, pelas mamas colocadas na parte superior frontal do tronco da mulher, permitindo a ela um equilíbrio melhor com a calipígia adiposidade inferoposterior.
Tal composição harmoniosa do corpo feminino acabou por desenvolver uma raça de ser humano - o brasileiro - e sua característica apreciação da anatomia da mulher: olha-a de frente e, ao passar, volta a cabeça, num movimento já previsto fisiologicamente para o pescoço humano, para também desfrutar do que está atrás³.
Como a natureza também funciona na base da ação e da reação, quanto mais o brasileiro passou a admirar verso e anverso, mais, na fêmea da raça, a natureza deu de aprimorar tais apetrechos da sua - dela - constituição anatômica. De modo que chegou ao espanto de acumular tanta adiposidade em tal região glútea, que produziu aqui mulheres melancias, dentre outras mais.
No entanto, a chamada compleição física do exemplar macho da espécie humana – vamos combinar – é meio esquisita. Tanto que fez o grande Darcy Ribeiro, que passou parte da vida entre os índios brasileiros, a afirmar categoricamente que uma das grandes invenções da civilização humana havia sido a roupa, porque, segundo ele, "homem pelado é uma coisa medonha de feio"⁴. Com o que sempre concordei, não fosse ele o intelectual que era!
Agora, dentro dessa feiura generalizada, há algumas coisas a destacar no homem, em comparação à mulher.
Em primeiro lugar, a virilha de homem! Ô coisa mais feia! Dá até nojo só em escrever! Aliás, nem sei por que estou escrevendo isto! Vá lá que seja para o meu argumento. Mas a da mulher!... Como é bonita! Raspada ou não, e até com brotoeja ou cabelinho inflamado. E, depois, a localização dela é estratégica, quase mortal! A do homem... sem comentários! Vou passar para outro tópico, pois estou tendo engulhos.
Outra coisa também feia de enojar: pé de homem. Principalmente se o cara se mete a peladeiro de fim de semana, e estropia as unhas, e desenvolve joanetes, calos, esporões. Aí, não há pedicuro que cure, com perdão do trocadilho. E quando, além disso, pelo uso constante daquele velho tênis ensebado, aparecem as micoses, as frieiras, os pés-de-atleta e, para culminar o horror, o chulé fétido, que polui o ambiente, então se torna insuportável. É melhor passar a outro tópico.
O cangote do homem também é horrível. Só serve para duas coisas: ou levar pescoção, quando seu proprietário se mete a besta com uns e outros; ou levar canga, como boi, quando sobre sua cabeça já nasceram cornos. E digo isto tendo na mente o cangote de Mike Tyson, talvez o mais horroroso que a natureza já produziu.
No entanto (percebam que até troquei de parágrafo), o cangote de uma mulher!... Pode haver coisa mais catita, mais suave, mais cheirosinha? E até mesmo quando está marejadinho de suor! É uma das partes da anatomia feminil mais venerada pelo povo nordestino. Tenho a impressão de que não haja um nordestino que, desde a pia batismal, não tenha sonhado em dar um cheiro num cangote, nem que seja a última coisa a se fazer na vida. Penso mesmo que, depois de rapadura com farinha, o que mais agrada a nordestino seja o cangote de uma princesa sertaneja⁵.
Contudo, numa coisa os dois se igualam: no cotovelo. É a coisa mais sem graça da anatomia humana. Cotovelo não tem o mínimo apelo erótico; é aparentado do joelho de avestruz, pela conformação; é enrugado como sharpei, aquele cão chinês; e tem a sensibilidade de um carrasco nazista. Nos homens, serve apenas para dar cotoveladas no jogador adversário. Nas mulheres, para sustentá-las à janela, quando estão vendo a vida passar, como a Carolina do Chico⁶. Se alguém lhe esbarra o cotovelo, sem que o veja, você ficará sem saber se seu proprietário é homem ou mulher. Então, além de feio, não tem a mínima graça.
Para não me alongar, vou destacar outra parte da anatomia humana extremamente feia do ponto de vista estético, mas que só existe em função da roupa: o tal cofrinho, aquela partezinha inicial da fenda das nádegas. Mesmo em mulher bonita, o cofrinho dói aos olhos. Em borracheiro gordo, ao se abaixar para consertar o pneu furado do seu carro, então, é de lascar, provocar vômitos!
No caso da mulher bonita, é preferível vê-la nua a ver seu cofrinho. Cofrinho eu dispenso. Simplesmente não olho.
Fico por aqui com estas achegas aos estudos de anatomia humana. Espero ter colaborado.
O tal cofrinho (em otiskeenerror.wordpress.com). |
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1. Sirva de exemplo Júnior Baiano. Aliás, um mau exemplo!
2. Aquele mesmo cujo nome omito aqui para não ser processado.
3. Millôr indagou, certa vez, que “se Deus fosse contra a paquera, por que teria feito o pescoço com tal mobilidade?”.
4. As palavras podem não ser exatamente essas, mas o pensamento é este mesmo, e já não me lembro se está em seu livro de memórias (Confissões, Cia. das Letras, 1997), ou se o vi em alguma entrevista.
5. Aqui me lembrei de duas músicas: 1ª: O cheiro da Carolina, de Luiz Gonzaga; 2ª: Princesa sertaneja, de Gereba e Patinhas, gravada no elepê do grupo baiano Bendegó, de mesmo título, de 1970.
6. Já aqui cito expressamente a música de Chico Buarque de Holanda, Carolina, de 1967.
"Cofrinho"...Confesso que não conhecia o termo! Lembrado de memória,até não me parecia tão feio, mas nessa fotografia...! Inestético, mesmo. Muito engraçado. Gostei da comparação das anatomias.
ResponderExcluirDaisy
Olá, Daisy, é o nome como os brasileiros chamam a isto que está na foto. Ainda bem que a foto esclareceu. Mas é realmente muito inestético.
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