18 de fevereiro de 2012

O JOGO DE DESPEDIDA DE MANÉ GARRINCHA


Tinha eu alguns meses de namoro com Jane, essa vascaína desavisada que tomou conta da minha vida desde então, quando nos propusemos a participar da festa da despedida do Anjo das Pernas Tortas. Acompanhou-nos o amigo de fé Rogério Andrade Barbosa, escritor de muitos livros e prêmios e botafoguense por direito hereditário, dado que seu pai, o grande professor Osmar Barbosa, infelizmente já falecido, descia as colinas de sua aprazível Nova Friburgo, para vermos o Botafogo jogar no Maracanã.
Com toda a sinceridade, tive de pesquisar a data em que ocorreu a despedida, já que o tempo que passa torna-se, em minha memória, um cipoal de difícil acesso. Isso ocorreu, assim, num dia 19 de dezembro de 1973. Dos fatos, não me esqueço.
O jogo foi à noite e chegamos quase em cima da hora, dado que o trânsito estava infernal. Era um dia útil, em que a cidade não para absolutamente para nada.
O Maracanã estava insuportavelmente cheio. Tenho a impressão de que só num Brasil e Paraguai, pelas eliminatórias de uma Copa do Mundo de mil novecentos e não sei quando, havia mais público. É que nesse jogo fiquei espremido, sentado de lado, num degrau da arquibancada.
O jogo, apesar das estrelas, dos craques, não tinha importância alguma, não fosse em homenagem a um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos: Mané Garrincha.
Não sei qual foi o placar, os jogadores que lá estiveram, a não ser o Mané, já com suas mágicas pernas pesadas de tantos desatinos que fizera, mas que, por mais aquela noite, encantaram a imensa galera que para lá se dirigiu. Tenho a absoluta certeza de que torcedores de todos os clubes do Rio de Janeiro lá estavam a reverenciar o jogador que mais soube dar alegrias aos apaixonados pelo futebol.
Garrincha ultrapassava os limites da paixão dos botafoguenses. Ele era praticamente uma unanimidade, assim como Pelé (não incluo nessa unanimidade os argentinos, por questões óbvias!), mas com um diferencial: enquanto Pelé era um craque e um atleta excepcional, ultracompetente, Garrincha, em não sendo atleta excepcional, era um craque como nunca se viu. Jogava bola de um jeito alegre, moleque, brincalhão, que enchia de felicidade os que o iam ver nas partidas.
Terminado aquele jogo melancólico, para quem foi a Alegria do Povo, a multidão começou a sair do estádio. Para não enfrentar o empurra-empurra normal nessas ocasiões e para dar uma de cavalheiro como minha namorada, resolvemos esperar um pouco mais.
Ao sairmos, os ônibus que passavam estavam apinhados. Por essa época, ainda todos duros, ninguém tinha condução própria e dependíamos do transporte público. Disseram-nos, então, que talvez fosse mais seguro pegar um na Praça Saens Peña. Fomos andando a pé até lá e acabamos dormindo na calçada, eu e Rogério fazendo revezamento como sentinelas, aguardando que o primeiro coletivo começasse a circular às cinco da manhã.
Chegamos a casa, em Niterói, pelas sete/oito horas.
Tomei um banho e fui trabalhar tresnoitado, mas com uma certeza na minha vida: eu tive a honra e o orgulho de estar presente ao jogo de despedida do grande Mané Garrincha. E essa bola não há zagueiro que me tire!

Mané Garrincha (em algosobre.com.br).

6 comentários:

  1. QUERIA EU TER TIDO ESTA OPORTUNIDADE!!! OU DE PELO MENOS, TER VISTO ELE JOGANDO QUALQUER PARTIDA!

    ResponderExcluir
  2. Caro Anônimo, tudo, às vezes, é uma questão de idade. Você deve ser bem mais jovem do que eu, mas ainda tem a possibilidade de o ver em vídeos por aí afora. Abraços.

    ResponderExcluir
  3. Caro Anônimo, tudo, às vezes, é uma questão de idade. Você deve ser bem mais jovem do que eu, mas ainda tem a possibilidade de o ver em vídeos por aí afora. Abraços.

    ResponderExcluir
  4. Tinha 11 anos de idade e fui a esse jogo. Quase virei suco, de tanto que fui espremido na entrada... O espetáculo foi uma maravilha como homenagem.....Lembro de Pelé, lembro de garrincha driblando (lembro do marcador dando o maior mole ....hehehehe....para deixar o "velhinho brilhar")...
    Outros tempos.....

    ResponderExcluir