O motivo, caso existisse, teria de ser necessariamente relevante. Qualquer desculpa esfarrapada iria complicar ainda mais a situação já melindrosa. Mas esperou que a mulher tomasse fôlego para ouvir as razões de chegar àquela hora. A janta já fizera a digestão. Empregada e filhos, ninguém sabia para onde ela saíra. Compromisso de última hora? Algum problema sério a resolver? Ou talvez um amante que chegou de viagem e exigiu sua presença? Nem é bom pensar! Melhor aguardar para saber.
A mulher entrou no banheiro e se preparava para tomar banho. Ele, impacientemente esperando, perguntou o porquê da hora. Ela fez que não ouviu. Ou não ouviu mesmo (isso nunca se vai saber), a água a cair-lhe sobre os cabelos ensaboados. Por que a essa hora? Já te conto; espera um pouco, que já te conto.
Calmamente fechou o chuveiro, enxugou-se, vestiu um roupão e enrolou a toalha nos cabelos. Cheirosa, bem perto dele, ar moleque, bafo de bebida, diz eu fui ao cinema com fulana. Ele, qual o filme? “Os últimos dias de Pompeia”, ela. Ele, e foi bom? Você não sabe que sacanagem era Pompeia, ela. Ele, é mesmo?! Não diga! Ela, quando o vulcão estourou, pegou gente de tudo que foi jeito; até gente com bicho, bicho com gente. Ele, ah! deixa de sacanagem; é mesmo? Como é que foi? Conta tudo. Na verdade, eu saí com Pompeia, lá do banco; ele foi transferido; e a sacanagem nós é que fizemos, ela. Ele, ah! pensei que fosse o filme; já estava até me interessando.
François Boucher (séc. XVIII), Diana saindo do banho, Museu do Louvre, Paris. |
Quem disse que a verdade dói?
ResponderExcluirIsto sim é um corno de classe. Saco!
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