7 de fevereiro de 2012

O DIA

o dia
a despeito de toda a miséria do povo
escancara seu sorriso solar
que banha de vida os edifícios
os automóveis
e um que outro vegetal furtivo entre concreto

os homens seguem os passos da condução
perdidos em seu próprio meio
sem se entenderem se ajudarem se ajustarem
trocam apenas distraidamente olhares insignificantes
a carga que se lhes exige
ultrapassa o sonho a fome o sono tranquilo

a noite pesa no forno do verão sufocante
ou enregela na solidão do inverno inesperado

e os homens continuam seguindo desnorteados
as estrelas que não brilham na abóbora terrestre
essas mesmas estrelas de latão
lustradas incessantemente anos a fio

e no dia que se fizer (e feito será esse dia!)
- o sol e a lua
astros esquecidos desol(h)ados
estrelas pingos de luz no céu caboclo –
todos os homens estenderão os corpos
para se aquecerem
ou se deixarem molhar pelo sereno
da madrugada nascer do dia
e se cumprimentarão
e mostrarão seus dentes ou sua ausência
e farão barulho com a garganta
quando beberem goles generosos de chope
ou estalarão a língua
ao sabor de um café concerto
sinfonia desejo de todos nós


Henri Matisse, Joie de vivre, 1905 (em artistoria.wordpress.com).

(Nota: Como vários poemas aqui postados, este também é antigo e tem seus sentidos muito presos ao tempo em que foi escrito. Espero que com esta explicação, algumas coisas possam ser mais bem entendidas.)

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