O poeta é um fingidor
E finge tão descaradamente
Que finge que está fingindo
Só para enganar a gente
E finge que sente dor
Como se uma dor latente
Almada Negreiros, Retrato de Fernando Pessoa, 1954, Centro de Arte Moderna, Lisboa.. |
Quando só no verso se sente
E a gente continua a crer
Naquilo que se pressente
Como se de fato doesse
Lá dentro onde ausente
Não há a mínima dor
De um poeta que mente
E continua fingindo
Só para enganar a gente
*A partir de Autopsicografia, de Fernando Pessoa.
Olha, vou ter que ler este poemas mais vezes. Passaram-me muitos pensamentos e nenhum encontrou palavras que expressasse o que de fato senti. Num primeiro momento, recusei-me a aceitar a conclusão. Depois ocorreu-me que, assim como as palavras não são, em geral, adequadas para falar dos sentimentos, não poderia aceitar minha primeira impressão; e por fim, compreendi que não se trata de enganar, mas de tentar dar realidade a algo intangível e aqui não se trata de mentir, o máximo que se pode dizer é que o poeta foi impreciso, ao não encontrar as palavras certas (se é que elas existem!).
ResponderExcluirÉ a velha história entre o real e o dizer e as implicações que isto tem. É mais ou menos por aí, como você bem observou.
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