17 de junho de 2011

OLHO PELA JANELA...

olho pela janela e o horizonte se oblitera
se corrompe na parede mal caiada
lá longe é possível haver barcos sobre as águas
aviões nos ares gente nas calçadas
daqui de dentro no entanto não sai nada
nenhum mosquito nenhum choro nenhum lamento
tudo é estéril asséptico desinfeto
e a vida – passageira sob todos os aspectos –
está deitada triste sobre um berço esplêndido

e lá fora continua o desespero de todas as coisas
de todos os animais humanos
correndo atrás de suas insoluções eternas
mas aqui abstraídos os sons que inundam a sala
a paz ou qualquer outro sentimento parecido
vacila entre a cruz e a espada
oscila entre o achado e o perdido
e a vida – condição de certos organismos –
irrompe em nossos corpos como vampiro


Antônio Poteiro, Procissão, 1925.


Um comentário:

  1. Temos muitas coisas em comum. Uma delas, são estes instantes-turbilhão, ao modo de epifania.

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