J. Pancetti, Mar grande, 1954. |
pancetti morreu no mar
não por afogamento
mas por uma indelével maneira
de respirá-lo colorido
VII
esta baía inunda meus olhos meus ouvidos
só não lava meu corpo
que sua beleza panorâmica se desfaz
nos detritos da lixeira a que a reduziu
a depredação dos homens
VIII
essas águas trouxeram os colonizadores
os mercadores os piratas os escravocratas
só não trouxeram a liberdade
a saúde e a riqueza
apenas levaram os corpos dos afogados
apenas lavaram os corpos dos bronzeados
(Imagem em varejototal.zip.net.) |
IX
chegam ao abrigo as águas do oceano largo
passeiam pela baía para cumprir seu percurso milenar
e saem maculadas sob os cacos das embarcações
tão escuras
elas que cristalinas
tão envergonhadas
elas que soberbas
X
a cada ano o homem aterra o mar da baía
sob não importam que razões
a cada ano o mar recua sob a terra
como se nunca tivesse sobrepujado o homem
Me lembraste da profecia de que o sertão vai virar mar e o mar virar sertão.
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