27 de junho de 2011

MARINHAS (II)

J. Pancetti, Mar grande, 1954.
VI

pancetti morreu no mar
não por afogamento
mas por uma indelével maneira
de respirá-lo colorido

VII

esta baía inunda meus olhos meus ouvidos
só não lava meu corpo
que sua beleza panorâmica se desfaz
nos detritos da lixeira a que a reduziu
a depredação dos homens

VIII

essas águas trouxeram os colonizadores
os mercadores os piratas os escravocratas
só não trouxeram a liberdade
a saúde e a riqueza
apenas levaram os corpos dos afogados
apenas lavaram os corpos dos bronzeados
(Imagem em varejototal.zip.net.)

IX

chegam ao abrigo as águas do oceano largo
passeiam pela baía para cumprir seu percurso milenar
e saem maculadas sob os cacos das embarcações
tão escuras
elas que cristalinas
tão envergonhadas
elas que soberbas

X

a cada ano o homem aterra o mar da baía
sob não importam que razões
a cada ano o mar recua sob a terra
como se nunca tivesse sobrepujado o homem

Um comentário:

  1. Me lembraste da profecia de que o sertão vai virar mar e o mar virar sertão.

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