A primeira chuva daquele verão arrancou do chão seco o cheiro forte e gostoso de terra molhada. Esse é um fato corriqueiro no interior. Só que naquele verão foi um pouco diferente para Chico Albino.
Vinha ele em cima de seu cavalo, selado a gosto, trote manso pela estrada de Santo Eduardo, rumo de Liberdade. Aquele cheiro penetrou-lhe com força nas narinas, de forma irresistível. Sem controle, apeou do baio, chegou até o barranco e, com a fome dos imortais, comeu um bom eito de terra. Satisfeito, porém um tanto desconfiado da sua incontinência, tornou a montar no cavalo e daí duas horas deu a viagem por terminada.
Chegando à vila, procurou o Edgard da farmácia e contou-se o ocorrido. Edgard ouvia e analisava. Receitou-lhe, por fim, um lombrigueiro.
- Sua barriga é lombriga pura, amigo Chico! Fique de jejum e tome isso, que é tiro e queda!
E quase foi mesmo.
Na verdade, Chico Albino estava era depauperado, subnutrido, carente de ferro e outros minerais, que a terra generosa ofereceu-lhe através do olfato.
O lombrigueiro quase o mata, agravado que ficou seu estado de debilidade geral. Aprendeu, porém, com sacrifícios, que o instinto ainda é uma boa forma de preservação da vida. Bem que ele já havia visto cachorro comendo capim.
Marino Marini, “Cavaleiro" (1947), em ninhodogaviao.zip.net. |
Penso que este é um mundo que hoje só existe na memória, tanto que o nosso precioso instinto caminha teleguiado.
ResponderExcluirMestre, tomar lombrigueiro era um desacerto só. Bela lembrança.
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