13 de junho de 2011

MOLDANDO A MASSA


Imagem em thirdandfairfax.
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Lucília tricotava sua solteirice em dedos hábeis, junto à janela da sala, arremedo de câmara indiscreta com que captava os possíveis e os impossíveis de seus conterrâneos. Seu tricô tinha tanta maestria quanto sua língua viperina, o que lhe dava algum prestígio entre os seus.
Ninguém sabia ao certo sua idade: o corpo estava firme e o rosto ainda conservado. Contavam dela casos de noivados malsucedidos e trágicos, que justificavam sua vida solitária. Apesar de tudo, dava-se bem com todos sem discriminação, sem superioridades.

Apenas duas vezes por semana, abria sua janela indiscreta, já tarde, para deixar entrar com a aragem da noite o Manuel Padeiro e sua prodigiosa capacidade de dar forma à massa mais escorregadia e fazer cheirar até mesmo a casca mais fina da rosquinha amanteigada. Isso tudo antes de enfornar os pães que iam alimentar todos os cafés da manhã da vila de Santo Antônio da Liberdade.
Padeiro de verdade é aquele que amassa o pão!

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