26 de abril de 2011

VOU ESCREVER UM LIVRO DE SUCESSO!


Em qualquer visita às livrarias da cidade, por mais descuidados que sejam nossos olhos - e lá eles nunca se descuidam tanto -, evidencia-se a profusão de livros em cujos títulos está a palavra menina e, em vários deles, a fórmula sintática a menina que.
Imagem em livrosepessoas.com.
O uso reiterado desse recurso tem-me chamado a atenção há algum tempo. Por este motivo, empreendi pesquisa no sítio eletrônico da Livraria Saraiva, onde encontrei 36 páginas, com 354 títulos que lançam mão de uma ou de outra forma. É uma quase uma biblioteca!
Evidentemente isso não ocorre de modo aleatório. É que este se tornou um dos mais rentáveis filões editoriais do momento. Sabemos muito bem que as editoras são empresas que visam ao lucro e que têm lá seus recursos de marketing para alcançar tal objetivo. E esse recurso específico é comum a publicações de várias delas.
Sabemos, também, por exemplo, que há nos Estados Unidos cursos que ensinam a se produzirem sucessos editoriais. As editoras, por vezes, encomendam obras com determinada temática a escritores de seu catálogo. Sempre no intuito de aumentar seu lucro, o que, certamente, contribui para a proliferação de títulos nesta linha.
Podemos, inclusive, verificar nas lojas, neste momento, bancas organizadas pelos seguintes temas: best-sellers, autoajuda, vampiros e livros cujo título tenha a palavra menina.
Há pouco, os romances históricos (que sempre me pareceram também um tipo de esperteza editorial), livros com tema sobre como ganhar dinheiro e se dar bem na carreira, livros na linha cientista ensandecido, tipo Erich Von Daniken, e obras psicografadas pelos mais diversos espíritos tinham seu espaço garantido.
Aliás, quanto a estes últimos, devo confessar que tenho muita dificuldade de acreditar em vida após a morte, em espíritos - e, caso (in)existam, sua presumida boa vontade para com os vivos -, em psicografias, em deuses e astronautas, bem como em seus  autonomeados representantes na Terra. E aproveito a oportunidade que se me oferece para incluir, nessa descrença generalizada, também boa parte das autoridades constituídas, nas quais às vezes voto, com o consequente arrependimento tardio.
Esse meu futuro e exitoso livro vai trazer alguns problemas. O primeiro deles será para os catalogadores bibliográficos. Como classificá-lo: ficção brasileira, romance histórico, autoajuda, esoterismo, epistolografia, mercado de capitais, ou, pura e simplesmente, embromação?
Após, virá a segunda dificuldade, esta já para os arrumadores das bancas nas diversas livrarias: em que lugar colocá-lo? Aqui, ali, lá, acolá, algures ou alhures? Por dúvida das vias, verão que será melhor colocar um exemplar em cada.
Por outro lado, porém, com certeza, ele terá inúmeros compradores: todos os que se dispõem a gastar seu rico dinheirinho com este tipo de literatura.
Já tenho até o título desta grande obra, a ser gerada com a finalidade de se tornar um estrondoso sucesso. Fico até com receio de causar melindres aos campeões de venda do momento. Eis o nome portentoso de meu livro: A verdadeira história da menina-vampira que psicografava livros de autoajuda, pelo espírito de Paulo C, em cartas ao padre Fábio M, para aumentar seu capital espiritual e pecuniário, com base na astrologia catastrófica maia.
Assinarei a obra sob um quase pseudônimo: Saint C. Mello. Fiquem de olho. Serei eu o autor. Os desavisados acharão que sou parente de um e outro citado no título. Tenho cá também meus truques de marketing.
Quando estiver nas livrarias, avisarei a todos vocês através deste blog. De início, as vendas serão limitadas a dois exemplares por freguês, a fim de que todos possam adquirir o seu.
Quem viver lerá!

2 comentários:

  1. Se você não registou o título nem o pseudônimo nos orgãos competentes faça isso sem demora. O que não falta é esperto, louco por uma novidade mesmo que reciclada.

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  2. Hihihi...vai vender mais que cerveja no carnaval!

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