13 de fevereiro de 2011

GRANDES IDEIAS, PEQUENOS FRACASSOS (OU VICE-VERSA, NUNCA SE SABE!)

A presença do ser humano sobre a face da Terra, desde que o mundo é mundo... 
(Por falar em mundo, vou aproveitar aqui para abrir um parêntese sobre a palavra mundo, ou não faria jus a tantos anos como professor. Então, aguentem-me! Não sei se todos sabem, mas mundo é antônimo de imundo, ou vice-versa, esta com o prefixo i- a indicar negação, como em imoral. É claro que o falante perdeu tal noção, pois usamos as palavras em contextos completamente diferentes e sem relação entre si, como ocorre no caso de moral e imoral, decente e indecente. E mundo tem como significado básico, primário, “organizado”, ”ordenado”, ”limpo”. Quando, na Bíblia, se diz que Deus criou o Mundo a partir do Caos, significa que Ele deu ordem ao que estava desorganizado. Na mitologia grega, este papel é de Zeus (o Júpiter dos romanos). Ele é o deus ordenador do caos anterior, herdado de seu pai Cronos e de seu avô Urano. Esta, porém, é uma história muito comprida que não cabe aqui. Voltemos ao motivo deste texto.)
Como ia dizendo, a presença do ser humano sobre a face da Terra, desde que o mundo é mundo, trouxe o surgimento de profissões e atividade laborais compatíveis com cada época, conforme o desenvolvimento que as sociedades humanas, então espalhadas pelo planeta, experimentavam.
Assim surgiram e desapareceram diversas atividades profissionais; outras perderam a importância que tinham; algumas se restringiram a determinadas sociedades ou áreas geográficas, sempre de acordo com a necessidade e o grau de desenvolvimento econômico-social do ser humano.
Por exemplo: durante muito tempo, as cidades tinham o acendedor de lampiões. Essa atividade não mais existe, extinta que foi pelo surgimento da luz elétrica. Na minha vila natal, houve uma época em que havia três cocheiras, locais destinados à guarda e ao tratamento de animais de montaria, geridas pelo cocheiro. Tais estabelecimentos não mais existem lá. A atividade ainda existe, mas muito restrita, atualmente.
Então, por todas essas considerações, fiquei imaginando atividades que, conforme a sociedade a que se destinem, estão fadadas ao fracasso. Uma delas, de que tive notícia recentemente, trata da intervenção cirúrgica que reconstitui, ou cria, o hímen, como se faz na Tailândia, sobretudo em mudança de sexos (masculino > feminino).
Ora, no Brasil, o profissional que fosse especialista em reconstituir ou criar hímens plásticos, no segundo mês do negócio aberto (no sentido econômico e não propriamente nas pernas), estaria pedindo esmolas na esquina, porque atualmente aqui ninguém tem interesse mais nessa película. Lembro-me, inclusive, de uma amiga de faculdade de Letras, já revolucionária nos idos de 68/71, que dizia que a honra da mulher não poderia estar numa película que faz ploc. Devo confessar que, na época, moço tímido do interior, fiquei um tanto chocado. Mas ela, como constatei pouco depois, estava coberta de razão.
Outra atividade econômica que não deve prosperar, por exemplo, em Brasília, é Escola de Ética. Primeiro, que não deve haver demanda de alunos. Mas, se aparecer aluno, este não completará o curso. Se chegar ao fim, não será aprovado. E, caso seja aprovado, a prática o desviará do caminho no primeiro ou no segundo mês de trabalho. Ou não estará em Brasília.
Agora como forma de conselho. Nunca abra loja para vender aparelho de pressão em Salvador. Você vai falir em pouco tempo. Descansado como é o baiano, duvido muito que a hipertensão campeie por lá. E, se quiser vender anti-hipertensivos, aí é que o fracasso será um sucesso estrondoso. Há uma incompatibilidade quase total entre a terra baiana e a atividade ligada a esse ramo de empreendimento.
Para não dizer que só falo em desgraças, dou uma boa dica de atividade que pode dar um troco legal.
Colhida em camilapreta.blogspot.com.
Se quiser ganhar dinheiro, agora é a hora de abrir loja para comercialização de canoa, galocha, capa de chuva, boia e que tais na cidade de São Paulo, durante o verão. O que você vai lucrar nessa época compensará por todo o restante do ano. Pode ser também uma estamparia de faixas de protestos contra o prefeito pelas inundações a cada chuva: “O PREFEITO DE SP NUNKASSAB O QUE FAZER!” (mais ou menos por aí). Estas são duas atividades com retorno econômico garantido na ex-Terra da Garoa, agora Terra das Inundações. “Eh, São Paulo / São Paulo da garoa” (Alvarenga e Ranchinho, mil novecentos e garoa!).
Por hoje é só, e passe muito bem!

4 comentários:

  1. Texto brilhante como sempre. Ai...ai...gigolô, Mestre...acho até que já extintos por motivos óbvios e citados no texto.

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  2. Saint-Clair, vc novamente acerta na mosca. Parece que mora aqui nesta Sampa de tantos dissabores. Trabalho no centro da cidade, quase ao lado da Prefeitura. Em dias de chuva, faltam-me dedos para contagem do número de ativos e estridentes ambulantes a lucrarem com enxurrada de guardas-chuvas que exibem para todos os gostos e bolsos. Chego a pensar que há uma associação notória entre as autoridades eleitas para cuidarem da cidade e os fabricantes chineses destas maravilhas de nylon e alumínio, visando as próximas eleições. Aliás, é só nisso que se fala por aqui.

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  3. Amigos, se há uma arte em ser brasileiro é sabermos adaptar-nos às mais diversas situações. E alguns ainda lucram muito bem com isso.

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  4. Muitas verdades ditas com alguma ironia, num texto de muita qualidade!

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