21 de fevereiro de 2011

O CASAMENTO DEGENEROU EM CONFLITO

Em Miracema, às vezes ocorrem umas coisas esquisitas.
Teteca fora convidado para padrinho do casamento de Valdir e Bernardinho. Foi o próprio Bernardinho, com sua voz extremamente fina, que o convidou, num dos momentos em que Teteca tomava umas e outras num pé-sujo do antigo mercado municipal. Aceitou de pronto, não se sabe se porque já estava para lá de Bagdá, ou porque era muito moderno e não dava bola para o que dele pudessem falar as línguas ferinas da cidade.
As bodas foram marcadas para um dos cômodos da parte superior do mercado onde Bernardinho morava. Sábado, à noite, com juiz de paz de mentirinha e tudo o mais.
Imagem em redeparede.com.br.
Bernardinho se vestiu no quarto de uma colega da noite, acima do seu. Chegou toda maquiada, num vestido branco, véu e grinalda, flores brancas na mão. O noivo botou bermuda nova e camisa polo também branca. Havia vários convidados do grupo GLS, que hoje está muito mais ampliado por outras letras. Periga, daqui mais uns anos, faltarem letras no alfabeto, tal a força encantatória do movimento.
A cerimônia ocorreu sem tropeços, sem complicações. Ambos deram o sim, com convicção. E a festa se iniciou. Salgadinhos e bebidas começaram a ser servidos aos convivas. O clima estava animado e descontraído. Teteca, como sempre, tomava sua cachacinha e observava tudo atentamente. Era a primeira vez que ia a um casamento gay.
pela metade da festa, ou daquilo que poderia ter sido a metade da festa, a noiva resolve subir para tirar o vestido e colocar uma roupa mais leve. O que ela viu no topo da escada apertada provocou-lhe uma reação de tsunami. O noivo estava aos beijos e abraços com uma boneca convidada. Os dois sem-vergonha desceram as escadas a poder de bofetadas de Bernardinho.
Dali em diante o que era festa se transformou numa batalha campal, com tapas, pescoções, puxões de cabelo, unhadas e gritinhos. Teteca que, naquela hora, mal se sustentava em pé devido ao efeito de não sei quantas doses, levou um pescoção tão bem aplicado, que perdeu o rumo da vida. Quando conseguiu – os ânimos já serenados – recuperar um pouco do juízo que ainda tinha, indagava para um e outro :
- O que foi que eu fiz, meu Deus, pra levar porrada? Eu acaso me engracei com quem não devia? Nem gay eu sou! Só aceitei o convite para ser padrinho.
No dia seguinte, curada a manguaça, com um olho ainda meio avariado, contava a história às gargalhadas. Mas prometeu: padrinho de casamento gay em Miracema só com segurança policial fardada. Que não estava aí para apanhar desarrazoadamente!

Um comentário:

  1. Porrada muita bem dada, que casamento gay não é lugar de boêmio que se preze. Há um nome a zelar!

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