Igreja de Santo Antônio, Miracema-RJ (imagem em ferias.tur.br). |
As coisas, ultimamente, andam tão esquisitas em Miracema, que fui levado ao equívoco no momento de dar o título a esta crônica.
A antes tranquila e quase bucólica cidade agora
anda sofrendo as cólicas (para fazer um trocadilho torpe) de cidade grande.
Após o aperto que a polícia deu aos criminosos em algumas favelas (Comunidade é
termo politicamente correto, a ser usado quando estiver tudo às mil maravilhas.)
da capital, a coisa desandou por lá.
Pelo menos uma vez por mês, eu e minha mulher
vamos até a cidade, para ver como está a situação de seus pais, já dos noventa
em diante. Fora isto, ela telefona diariamente e se põe, deste modo, a par de
tudo que ocorre em sua casa e nas imediações. Miracema não é uma cidade assim
tão grande, que não se possam ter informações sobre quase todos os seus
habitantes.
Começou por informações de relatos acerca de
furtos de objetos de áreas externas da casa de seus pais e de vizinhos:
botijões de gás, cadeiras, ferramentas, escadas, dentre outros.
Pelos jornais, vimos notícias de ações mais
violentas, como assaltos a casas comerciais de pequeno porte e residências,
inclusive com agressões físicas a moradores.
Há residências, por exemplo, que já foram
roubadas por duas e três vezes.
Por tudo isso, espalhou-se por Miracema um
pânico na população, que optou por gradear portas e janelas. A cidade está
transformando suas casas em prisões domiciliares. O cidadão de bem se prende e
deixa a cidade livre para a ação da bandidagem.
Apesar de toda a neurose e de todo o medo que
tomaram conta dos miracemenses, há casos interessantes e engraçados.
Um deles é o de uma moradora das vizinhanças de
meu sogro, Silvana. Ela acorda no meio da madrugada, sobressaltada por um
barulho no seu quarto. Quando abre os olhos, dá de cara com o ladrão, de pé,
apenas contornado pela fraca iluminação que atravessa os vidros da janela.
- Que é isto, meu Deus? O que está acontecendo?
- grita ela, sem entender completamente a situação.
O gatuno, calmamente, lhe diz:
- Pode ficar tranquila, dona! Já peguei o que
queria e já estou indo embora. Sem estresse!
Candírio, competente mecânico das antigas,
conseguiu descobrir o autor do furto de algumas de suas ferramentas. Segurou o
rapaz pelo colarinho e o obrigou a ir até sua casa, a fim de tentar recuperar
seus instrumentos de trabalho. Não encontrou nada. Aliás, na casa do ladrão
viciado em crack, não há nem portas, janelas ou caixonetes. Ele vendera tudo,
para manter o vício.
Já com Bolinha, caminhoneiro corpulento e
disposto, é que se deu caso mais esquisito.
Tendo percebido que havia homem estranho em
casa, conseguiu atracar-se com ele e dominá-lo. Amarrou-o com cordas, jogou-o
sobre a carroceria do caminhão e o levou até a delegacia, que não fica distante
de sua residência.
Apresentou o meliante aos solavancos ao policial
de plantão:
- Esse miserável entrou em minha casa para
roubar e o prendi.
O policial, naturalmente irritado por ter sido
incomodado àquela hora da madrugada, lhe diz na lata:
- Quem é o senhor para prender alguém? Que
autoridade o senhor pensa que é, para julgar que pode pender um e outro por aí?
O senhor sabe que eu posso lhe prender por isso? Desamarre já o cidadão, senão
quem vai pra trás das grades é o senhor!
- Mas ele entrou na minha casa para roubar! -
disse Bolinha meio abobado com a postura da otoridade.
- Isto é o senhor que está dizendo. Solte o
cidadão imediatamente!
Sem alternativa, Bolinha desamarrou o ladrão e
disse:
-Aqui, seu ladrão, quando o senhor quiser, pode
voltar lá em casa, para roubar à vontade. Não vou mais incomodar. E me
desculpe!
Então o policial cresceu em sua já vasta
autoridade e ameaçou:
- O senhor está querendo ir preso agora, por
zombar da minha autoridade? Posso trancafiá-lo por desacato!
Mais uma vez, Bolinha curvou-se diante do
representante da ordem e da lei, pegou sua corda para não ter prejuízo nenhum,
entrou no caminhão e retornou a casa. E não mais pregou os olhos naquela noite
e em algumas posteriores.
A situação tinha mais poder que o energético que
a moçada toma, a fim de aguentar virar a noite na balada.
O nosso maior problema, Mestre, que vasta parte nossas "otoridades" também são gatunos! Federais, estaduais e municipais....Saco!
ResponderExcluirAssim na terra como no céu e amém.
ResponderExcluir