21 de abril de 2012

CRÔNICAS DE MIRACEMA II

Quando conheci Miracema, lá pelos fins de 70 do século passado, levado por minha mulher, que é oriunda de lá, fiquei muito bem impressionado com a cidade.

Embora pequena –  para repetir uma implicância que gosto de fazer, menor que a minha Bom Jesus do Itabapoana –, Miracema tem uma praça ajardinada maior e muito mais bonita que a Governador Portela de minha terra natal. Ambas sofreram remodelação há pouco, numa onda de reformas de praças em cidades do interior que parecia coisa orquestrada.
O povo miracemense, contudo, não difere do bonjesuense: ambos são receptivos, simpáticos e gostam de uma conversa fiada, que se puxa com o umbigo colado ao balcão do botequim, ou nas outras diversas oportunidades que a vida numa cidade do interior proporciona.

No verão, o calor é semelhante em ambas: senegalesco, embora em Bom Jesus corra, por vezes, um vento suave favorecido pelos contornos do leito do rio Itabapoana, que marca a divisa entre os estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. Tal calor só é ultrapassado pelo de Itaperuna, que fica à metade do caminho entre as duas cidades e por onde passo sempre que vou visitar meus familiares.

Mas o que, naqueles idos, me chamou muito a atenção foi a profusão de moças bonitas que a cidade tinha. Era um enxame delas, como não se via frequentemente em lugares do mesmo tamanho e com a mesma população. E, talvez motivada pelo momento – era carnaval –, a beleza das miracemenses ainda tinha o componente festeiro e alegre das devotas do Rei Momo.

Eu havia saído de Bom Jesus, para estudar em Niterói, onde acabei fixando residência, em 1967. Àquela altura, lembro-me bem, sabíamos dos nomes das moças bonitas da minha terra. Eram algumas, não muitas.

Niterói, por exemplo, é um celeiro de mulheres lindas. Mas isto era uma coisa mais ou menos previsível para mim: população muito maior, mais mulheres bonitas. Miracema, todavia, tinha proporcionalmente, mais moças jeitosas (palavra que então gostávamos de usar, com certo acento malicioso em sua pronúncia) do que Niterói. E, sobretudo naquele carnaval, fiquei imaginando a razão deste quase milagre (eu também me beneficiava de ter uma mulher bonita): a água – a escassa água – da terra deve ter lá os seus mistérios.

Lembro-me até de um comentário que a grande professora e artista plástica Maylda Bessa fez, por volta dos 80 – ela já beirando a terceira idade –, a respeito da beleza de nossas alunas na Faculdade do Centro Educacional de Niterói. Ela própria reconhecia que, “em sua época”, não havia tantas garotas bonitas. Até mesmo, segundo ela, a forma do corpo mudara. Eram corpos de padrão moderno, bem mais sensuais e harmônicos.
Passaram-se todos esses anos e, como que, me acostumei com isto. Na verdade, podemos constatar, tanto lá, quanto aqui em Niterói, como em Bom Jesus ou em qualquer rincão deste país, que o padrão de beleza do nosso povo melhorou bastante nas últimas décadas. Inclusive o dos homens, raça por que tenho ojeriza, mas cuja existência não posso deixar de reconhecer. Os filhos são normalmente maiores que os pais e, por conta da melhoria no padrão de vida, também são mais belos.

Pois, desta última vez que estivemos em Miracema, saímos com minha filha e o noivo, minha cunhada e seu marido e mais uma amiga, para conhecer um novo bar da moda, localizado bem diante da bela praça da cidade. E, mais uma vez, fiquei surpreendido com tanta garota bonita (Minha mulher deve ter notado os rapazes, mas não me disse.). E, agora, garotas mesmo, já que adentrei o território da terceira idade! Adolescentes e jovens mulheres com idade menor que minha filha, mas de uma beleza que chama a atenção. E isto é impossível de não se notar, pelo menos enquanto a visão estiver calibrada por grossas lentes corretivas.
Eh, terrinha abençoada!


Praça Dona Ermelinda, Miracema-RJ, decorada para o Natal de 2011.

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