menina, a noite é escura – não há luz –
eu só te vejo.
as pedras as flores o brejo
onde estão?
que é da luz, menina que não me escutas?
as pedras as valas a morte?
menina, a noite é negra,
onde está a lua?
minha vista é cega, eu só te vejo.
menina, não morras perto do sol
que o sol me ofusca.
menina, onde estão as praias
as dunas os carros iluminados?
menina, onde estás enfim sem mim,
com a luz apenas que te contorna?
olha que meu peito entorna amor.
menina, a noite é fria e a lua se pôs
antes que o dia viesse
para que eu pudesse ver o charco
que me espera e me devora.
menina, a tua luz me basta
e o sol e a lua se perdem inúteis,
mas onde estão as pedras a flor e o brejo?
eu não os vejo. eu não os vejo!
e eu me encontro no desejo de te encontrar
atrás das dunas, levando flores.
menina que não sossegas,
as rugas da minha dor são velhas.
menina, a tua luz passeia errante
no embotamento negro do meu cérebro.
menina, mostra-me as pedras,
as tuas pedras, que me cercam,
e o teu charco que me afoga.
menina minha, que não és minha,
que me iluminas, que não me escutas,
socorro!
Van Gogh, A noite estrelada, 1899, Museu de Arte Moderna, Nova Iorque (imagem em pt.wikipedia.org). |
(Nota: Este poema é do final da década de 60.)
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