5 de novembro de 2011

QUEM SABE DE MIM SOU EU

medir-me com este metro não me basta
extrapolo mesmo a medida do poema
porque o que sofro e choro
as palavras não traduzem
o ritmo não contém.
e como medir-me então
se o exercício que me imponho nada mede?
é medir-me em cada eriçar de pele
em cada pulsar ridículo de sangue
na repetição enfadonha dos sintomas imprecisos
que nos fazem vivos
acreditar que somos eternos.
é medir-me em cada ânsia e sonho alheio
na inumerável multidão de indivíduos
que se creem corpo social
Leonardo da Vinci, Homem vitruviano
(em pt.wikipedia.org).
agentes da história.
é medir-me nos passos de meus filhos
a exigirem seu direito à vida
que neste tempo é muito pouco ou nada.
e não há nada que a medida abarque
que o amor permita se contenha
no estreito espaço deste corpo
senão a multiplicação diária
da luta empreendida
para curar todas as dores mazelas e feridas
com que tento dar a medida que de mim têm.



(Texto produzido no início dos oitenta.)

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