medir-me com este metro não me basta
extrapolo mesmo a medida do poema
porque o que sofro e choro
as palavras não traduzem
o ritmo não contém.
e como medir-me então
se o exercício que me imponho nada mede?
é medir-me em cada eriçar de pele
em cada pulsar ridículo de sangue
na repetição enfadonha dos sintomas imprecisos
que nos fazem vivos
acreditar que somos eternos.
é medir-me em cada ânsia e sonho alheio
na inumerável multidão de indivíduos
que se creem corpo social
Leonardo da Vinci, Homem vitruviano (em pt.wikipedia.org). |
é medir-me nos passos de meus filhos
a exigirem seu direito à vida
que neste tempo é muito pouco ou nada.
e não há nada que a medida abarque que o amor permita se contenha
no estreito espaço deste corpo
senão a multiplicação diária
da luta empreendida para curar todas as dores mazelas e feridas
com que tento dar a medida que de mim têm.
(Texto produzido no início dos oitenta.)
A medida do homem é a luta que ele trava.
ResponderExcluir