18 de novembro de 2011

MITOLOGIA GRECO-ROMANA ADAPTADA A TEMPOS DE CRISE

Com a derrocada da nova civilização (?) greco-romana, na pessoa de seus países, suas contas públicas e seus políticos incompetentes, acrescentada a bunga-bunga berluscônica, sinto comichar nos meandros das minhas circunvoluções cerebrais a necessidade de adaptação da antiga mitologia, velha de milhares de anos, a esses novos tempos.

Destarte, pude captar as novas atribuições de algumas entidades do panteão do Olimpo, como vou passar a fazer.
O próprio Olimpo perdeu muito de sua mística, em virtude da quebradeira geral imposta à Grécia, onde miticamente se situa, e agora baixou de categoria, operando presentemente no varejo da gastronomia, com franquias abertas em Niterói, no Olimpo, localizado no bairro de Charitas, e no Rio de Janeiro, em sua versão franco-brasileira, no Olympe, do chef Claude Troisgros, que funciona no Jardim Botânico. Em Bom Jesus do Itabapoana, é meramente um adjetivo clubístico, sem maiores pretensões, já que nem a LBD – Liga Bonjesuense de Desportos –, de tão gloriosa memória, funciona: Olímpico Futebol Clube. Ou, se quiserem, ainda no ramo da gastronomia, porém agora de extração popular: a carroça de churrasquinho do José Olímpio, que vem a ser meu parente afastado. E bem afastado, depois que fiquei sabendo do desaparecimento misterioso de vários exemplares da raça dos felinos, tão logo ele abriu seu comércio ambulante de espetinhos grelhados.
Hefesto (ou Hefaistos) fechou sua siderúrgica em Lemnos, onde chegou a trabalhar para Zeus na confecção do escudo deste, e abriu serralheria modesta, de duas portas estreitas, na Rua Noronha Torrezão, no Cubango, atendendo a pedidos de basculantes e grades peito de pombo para apartamentos e residências. Vulcano, seu equivalente romano, terceiriza para o grego as encomendas que recebe, pois sua franquia faliu. Antes tinha passado pela Metalúrgica Castor, em Bangu, mas foi despedido da função de forjador-mor, após a morte de seu proprietário, também corretor zoológico, presidente de clube e benemérito de escola de samba. Contudo tem dado expediente nuns vulcões chilenos que estão dando um trabalho hercúleo à aviação internacional.

Por falar em hercúleo, vamos ao herói. Hércules, coitado, virou marca de garfos, facas e colheres. E seu trabalho mais difícil é encher a barriga de seu proprietário e continuar brilhando, após cada lavada. Nada mais daqueles portentos, como matar a hidra de Lerna, o leão de Nemeia, o gigante Gerião e as aves do lago Estínfalo, dentre otras cositas más, se pode esperar dele. Seu nome grego, Héracles, atualmente não serve nem mesmo para nomear menino homem, nascido nos cafundós do país. Hoje é tudo Maicon, Uóxito, Maicosuel, Macojequis, por aí afora.
Mercúrio teve seu comércio abalado por negócios mal realizados e também pela falta de encomendas do setor público, onde conseguia superfaturar nos contratos advindos de licitações manipuladas. Abriu uma farmácia de manipulação – sua especialidade, como se vê – onde é especialista numa tintura muito eficaz em escoriações generalizadas, à qual deu seu nome adaptado: mercurocromo. Seu equivalente grego Hermes, no entanto, está em melhor situação, porque franqueou o uso do nome para marca de produtos muito cobiçados por gente endinheirada e seus cavalos: Hermès, assim mesmo com acento afrescalhado de revés e tudo.
Minerva, a deusa romana da sabedoria, virou marca de sabão em pó  - agora é da sabãodoria, com perdão do trocadilho infame -, que também anda desaparecida do mercado, numa clara tendência de extinção total. Sua coirmã grega, Atena, vive às voltas como capital do país, cheia de mazelas, sofrendo com manifestações frequentes de milhares de pessoas que vão para as ruas falando uma língua muito esquisita que ninguém entende: parece grego, pô!
Plutão perdeu tanto prestígio, com esses problemas todos, que teve sua condição de planeta caçada, que dirá a de deus. Contra isso não pôde fazer nada, porque a Ciência pode tudo, inclusive dizer besteiras agora, para, daqui a pouco, alterar tudo, como tem feito nos últimos cinco mil anos. Assim, Plutão fica na geladeira, aguardando melhor sorte. Seu equivalente grego Hades, entrou na letra de canções brasileiras chorosas: “hades chorar, hades sofrer” (Veja lá em Amor perdido, por Silvinho). Mais ou menos por aí. 

Para não me delongar demasiadamente e não misturar sua cabeça com tanta informação pertinente e suspicaz, suspendo por agora esta minha teogonia adaptada a tempos de crise, prometendo voltar, assim que me der na telha, ou que alguma Musa desocupada me atender.

"Antigo busto de bronze, o chamado Pseudo-Sêneca,
que atualmente especula-se como sendo um retrato
imaginativo de Hesíodo", autor de Teogonia
(imagem em pt.wikipedia.org).

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