1 de novembro de 2011

NÃO ME MANDEM E-MAILS

Às vezes recebo certos e-mails com promoções que não estão adequadas ao meu perfil.

Há aquelas ofertas tradicionais de tevês de última geração, aparelhos eletrônicos os mais diversos, o último modelo de geladeira. Não falo desses.
Contudo, chegam-me alguns que reputo até mesmo impertinentes. Em primeiro lugar, porque ocorrem com frequência preocupante. Fico imaginando que, só por digitar essas bem traçadas, conhecem meu perfil completo, sabem de minhas carências e querem transformar minha vida. Ou – nunca se sabe – são como metralhadoras giratórias: atiram para qualquer lado, na esperança de, a qualquer momento, acertar algum incauto.
Há, porém, certas ofertas problemáticas, quando não sintomáticas.
Algumas delas, que já referi em postagem anterior, acenam com a possibilidade de  aumentar o tênis que uso há muitos anos. Já chegaram a prometer mais oito centímetros. Garantem que minha vida se transformaria num paraíso. Eu seria capaz de pegar todas as garotas num raio de dois quilômetros. Fico cabreiro! Agora que meu tênis já está velho e usado, não sei se será proveitoso. Prefiro não mexer com isso. Deixa no tamanho em que está. Melhor não mexer. Também já não adiantaria muito mesmo!
Tenho recebido também alguns e-mails oferecendo passeios rápidos a preços módicos. Trilhas, subidas, escaladas, mergulhos. Estou fora! Se não tiver poltrona, cama com colchão ortopédico, ar condicionado, um bom chuveiro com água quentinha e amenities (palavra da moda), é bom nem me oferecer. Faço uso de todos os meus direitos de sexagenário preguiçoso e acomodado, da linha direta de Dorival Caymmi. Agora, comigo, é sombra e água fresca.
Outro tipo de oferta vem de um restaurante vegetariano no alto da serra de Nova Friburgo, um pouco antes de chegar a Mury. Sistematicamente enviava-me e-mails com promoção de feijoada vegetariana, rodízio verde, churrasco de chuchu e alface, entre outras saladinhas, sojas e germe de trigo. Também estou fora! Não cheguei a esta idade comendo essas coisas. Se não houver carne, não me chamem! Nem que seja um peixinho ensopado! Sou onívoro por formação e princípio filosófico. Até como essas coisas, mas sempre acompanhadas de algum bicho morto. Depois, chamar uma gororoba de feijoada vegetariana é tentar enganar os desejos do cérebro por uma boa e autêntica feijoada cheia de pé, costela, língua, orelha, rabo, lombo, carne-seca, paio, linguiças. Não tem nada disso? Então não me convidem! Inclusive já detonei meu nome da relação de contatos deste restaurante. Aliás, nem sei como eles me descobriram!
Por fim, a classe de mensagens que querem dar um jeito na minha vida econômica: oferecem empregos, empréstimos a juros convidativos, planilhas para administrar minha vida, conselhos de economia e finanças e ofertas de trabalho, com possibilidade de lucros maravilhosos sem que eu saia de casa. Aviso a esses: não quero nada disto! Vou vivendo do jeito atrapalhado que sempre vivi. Dou minhas cabeçadas, minhas topadas, mas continuo caminhando. Não gosto de seguir modelos, regras, filosofias, religiões, novelas e minisséries. Sigo, quando em alta, o Botafogo e, assim mesmo, se for por perto. Passou de cinquenta quilômetros, ligo a tevê e vejo.
Vou invocar o grande Tim Maia: “Ora bolas, não me amole / Com esse papo, de emprego / Não está vendo, não estou nessa / O que eu quero? / Sossego, eu quero sossego”.*

Imagem em open4downloads.com.
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*Sossego, de Tim Maia, gravado originalmente pelo mesmo no elepê/cd Disco club, WEA, 1978.

3 comentários:

  1. E se aumentar o tênis ele fica largo, ora. Feijoada vegetariana deve ser invenção de sogra que odeia o genro. Só pode.

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  2. Meu caro, este mundinho virtual parece coisa de filme de terror classe B, daqueles bem trash. Veja o amigo que ultimamente venho recebendo um comunicado da Nasa Laboratórios que, dentre outras presepadas, afirma que fiz um exame de DNA a pedido de uma tal doutora dois dias antes de recebê-lo e, pasme!, o exame já está pronto e devidamente debitado no meu cartão de crédito o custo, bastando eu apenas clicar no link para ter acesso a mais informações.

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  3. A coisa é mais doida do que a gente pensa!

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