23 de outubro de 2010

QUANDO EU MORRER

quando eu morrer não me enterrem
espalhem meu corpo retalhado
pelos caminhos de liberdade
espalhem meus sonhos irrealizados
pelas estradas do interior dos homens
e o barro dos meus sapatos
pelas calçadas das cidades

quando eu morrer
o que ficar de mim – se disso possibilidade
houver por mais remota chance –
espalhem com as crianças
e com os cães das ruas

minha memória será pálida
enquanto meu sangue correr
e não se coagulará com o tempo
nem com a comiseração dos outros

a imortalidade é apenas uma farsa
que acalenta nossa existência vaga

2 comentários:

  1. Uau! Esta é uma daquelas falas que a gente nem de longe pensa em contrariar.

    ResponderExcluir
  2. Cara, vc é poeta. Não há dúvida. Quanto à ímortalidade, a dúvida é do nosso amigo, o Príncipe da Dinamarca: "Ser ou não ser, eis a questão" "To sleep, no more". Bem, o cara ficou com medo de dormir e sonhar e sonhando, sonhar com o quê. Na dúvida, não ultrapassou, não se matou. Morreu depois, e matado. Será que sonhou?Eita coisa mais maior de grande...

    ResponderExcluir