Uma vez que é irreversível ser politicamente, socialmente, ecologicamente, racialmente, etcmente correto, e tendo em vista algumas palavras e expressões que já circulam por aí, resolvi assumir o troço e também propor a mudança de velhas palavras, carregadas de sentidos preconceituosos, por novas expressões que rompam esse espírito. Abaixo vão algumas (a lista pode aumentar com o passar do tempo).
Em vermelho as formas reprováveis, que não devem mais ser utilizadas por pessoas decentes; ao lado, as formas recomendadas a essas mesmas pessoas. Isso, é claro, se alguém fizer absoluta questão de ser uma pessoa decente neste país!
Quero esclarecer que, sempre antepondo-se à nova expressão, deverá ser usada palavra denotativa de deferência e consideração (cidadão, senhora, senhorita), sem a qual a expressão pode parecer desrespeitosa, o que, convenhamos, é justamente o contrário desta nossa proposta. Tenho a impressão de que uma das razões por que o Japão é tão desenvolvido deve-se ao fato de que lá sempre usam a palavra honorável (san, em japonês, aplicado ao fim da palavra) para tudo. Por exemplo: o guarda do metrô de Tóquio que empurra a multidão de japas para dentro dos apertados vagões é chamado de honorável empurrador, assim como o que puxa, na estação de desembarque, a multidão de japas enlatados é chamado de honorável puxador. Aqui, talvez, esse honorável puxador tivesse outro sentido. Mas isso não vem ao caso agora.
Os repórteres Jilozinho e Totó, assíduos no blog Interrogações, do amigo Zatonio Lahud, têm feito uso, eu diria mesmo que até abusivo, de algumas dessas expressões, vez que, embora residentes ainda na singela São José do Calçado, primam por uma postura civilizada e responsável.
Eis, enfim, a lista:
Agiota > cidadão lucrativamente cobiçoso
Analfabeto > cidadão apartado do abecedário
Anão > cidadão verticalmente prejudicado (Forma que ouvi de Zatonio.)
Árbitro de futebol > cidadão maternalmente mal referido
Baitola > cidadão prazerosamente cessionário das partes pudendas
Bandido > cidadão habitué do Código Penal
Banguela > cidadão odontologicamente deficitário
Branquelo > cidadão desprovido de melanina (Num país tropical, branquelo é injúria grave!)
Bunda-mole > cidadão francamente irresoluto
Cachaceiro > cidadão compulsivamente aderente ao Pró-Álcool
Cafetão > cidadão corretor de serviços sexuais
Caloteiro > cidadão desmemoriado relativamente a dívidas
Careca > cidadão desprevenido de cobertura capilar
Cego > cidadão luminosamente insensível
Cidadão > abestado (Se quiserem, para compor a expressão: cidadão abestado.)
Corno > cidadão galhudamente decorado
Covarde > cidadão especialista em retiradas estratégicas
Desasseado, porco > cidadão padecente de hidrofobia eletiva
Eleitor > cidadão periodicamente iludido em sua boa-fé
Fanho > cindãdão permanentemente nãsõbstruído
Gago > cidadão fa-fe-fi-falante
Gastador > cidadão pendente ao esbanjamento
Gigante > cidadão verticalmente desabusado
Gorda > senhora/senhorita lipofílica ou afeiçoada a tecidos adiposos
Gostosa > senhora/senhorita gostosa (Essa o politicamente correto vai me perdoar!)
Ladrão > cidadão amigo do alheio (Como há muito referido nos jornais de minha terra natal.)
Loura burra> senhora/senhorita nordicodescendente de Q. I. irrisório
Macumbeiro > cidadão afeiçoado aos orixás ancestrais do continente primevo
Magrela > senhora/senhorita osseamente avantajada
Manco > cidadão periclitantemente andarilho
Narigudo > cidadão cyrano-bergeraquense
Negão > cidadão afrodescendente (Não fui eu que inventei essa; forma já consagrada.)
Orelhudo > cidadão auricularmente avantajado
Pão-duro > cidadão monetariamente afeiçoado
Piranha > senhora/senhorita permissionária de serviços sexuais remunerados
Policial > senhor cidadão puliça (É preciso ter mais respeito!)
Portuga > cidadão panificador luso-vascaíno
Preguiçoso > cidadão reconhecidamente ergofóbico
Sapatão > senhora/senhorita sequiosa da fonte da donzela
Surdo-mudo > cidadão sonoramente debilitado
Velho > cidadão etariamente recalcitrante
Zarolho > cidadão ocularmente bifurcado
Espero que, depois desta tentativa de tornar o convívio social mais harmonioso, com o uso de tais expressões, eu não seja taxado de cidadão semeador de vetustas maledicências.
Jilozinho e Totó mandaram agradecer por terem sido citados em tão nobre espaço, mas mandaram dizer que singela é o cacete! Reacado dado, estou rindo até agora e vou copiar o texto para futuras aventuras dos dois. Abraço!
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