15 de outubro de 2010

NÃO HÁ JARDIM NEM FLORES

não há jardim nem flores
muito menos verduras frutas e legumes
hortas e pomares.
a terra está definitivamente calcinada
as fontes de água soterradas
e o ar contaminado
e ninguém sabe ninguém viu
ninguém nem aí.
já o ouro – esse corruptor –
poucos o possuem
e deixam as migalhas para todos
as migalhas da miséria
para repartir como na multiplicação dos peixes e dos pães:
uma concessão benevolente dos novos deuses.
não há pátria nem esperança
apenas o latifúndio improdutivo de alguns
e o desespero degredado de milhões.
não há poesias nem risos
só os ventres vazios os corpos corrompidos
e o horizonte fechado a cadeado.

Um comentário:

  1. É por estas e outras que já na República de Platão era vedado o acesso aos poetas. Platão os acusava de inventadores de deuses. De minha parte, digo que o mundo real das coisas nunca é o mesmo sem eles, estes olhos que se antecipam ao abismo.

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