29 de outubro de 2010

EU QUERO UM TRABALHO FÁCIL!

Tripalium (Eh, vidinha difícil!)



Embora todos saibamos que “o trabalho dignifica o homem”, o que é uma verdade verdadeira, nem sempre o homem digno trabalhou. Pelo menos com a acepção da palavra trabalho como temos modernamente. A casta de nobres romanos não trabalhava. Trabalhar era coisa de escravos e da classe baixa da população.
Na verdade, a palavra trabalho da língua portuguesa tem no seu étimo, na sua raiz mais remota, o termo latino tripalium (literalmente “três paus”), que nomeava uma espécie de instrumento de tortura aplicada a escravos e infratores da Lex romana. De tripalium saiu o verbo tripaliare, fonte do nosso trabalhar. Os verbos latinos que tinham o sentido de “trabalhar” eram operare (port., obrar) e lavorare (port., laborar, lavrar).
Vê-se, por aí, que a atividade laborativa, em nossa língua, assim como em francês (travailler), espanhol (trabajar), catalão (treballar), galego (traballar), não é bem recomendada, diga-se, etimologicamente. Em francês, inclusive, o verbo também tem o sentido de “atormentar”, como na frase “Cette idée me travaille depuis quelque temps.” (Esta ideia me atormenta há algum tempo), acepção, aliás, em desuso em português. Já em italiano, a palavra correspondente é lavorare.
Não bastasse esse passado pouco recomendável, ainda conseguimos, no Brasil, agravar mais o significado, com palavras e expressões como: cavar, ralar, suar, trampar, dar duro, pegar no batente, pegar no pesado, dentre outras. Ninguém que exerça a atividade identificada com essas palavras ou expressões ganha bom salário. Bom salário só ocorre quando a atividade é identificada com expressões do tipo: presidir, gerenciar, dirigir, coordenar, administrar, elaborar um projeto, coordenar um grupo de trabalho, empresariar um jogador de futebol famoso ou uma dupla sertaneja estourada na mídia. Mesmo assim, todos esses, embora remunerem condignamente, também exigem esforço.
No entanto, há certos trabalhos fáceis, suaves, gratificantes (óbvio que não estou pensando no salário mínimo!), isto é, trabalhos moles.
Um deles, por exemplo, é o daqueles papagaios de candidato, que ficam atrás do patrão, nos discursos, balançando a cabeça em sinal de aprovação às grandes ideias apresentadas para a salvação do país. Em tempos de campanha política, é muito fácil vê-los compondo a cena reproduzida nos noticiários das tevês. Lá estão eles, como aquelas tartaruguinhas em miniatura que balançam a cabeça ao menor movimento. E, quanto mais improvável seja o conteúdo da promessa, mais eles balançam a cabeça.
Outro trabalho mole é, nas redações dos jornais, o do cara incumbido de colocar entre parênteses a atualização da data no texto da notícia:
                                   “O líder sindical afirmou:
- Iremos amanhã (hoje) ao Ministério, para fazer nossas reivindicações.”
Viram como esse servicinho é fácil? É só ir lá e colocar nos parênteses.
Um muito tranquilo, de remuneração sempre boa, até porque não exige contrapartida, é o de aspone (assessor de po... nenhuma). Não faz nada, a não ser deixar o paletó no espaldar da cadeira, marcando território, dizendo para todos os idiotas que ralam no setor que aquele lugar tem dono. De vez em quando, tem de trocar o paletó, para não pegar mal.
Mas o trabalho do aspone é um pouco mais difícil do que o do funcionário fantasma, já que este nem precisa ir ao local de “trabalho” depositar o terno. O funcionário fantasma é tão fantasma que lá não aparece, ninguém sabe quem é, ninguém jamais o viu. Mas o salário pinga na conta no fim do mês, senão na sua, naquela de quem lhe deu o cargo. Mas que pinga, lá isso pinga, pode ter certeza!
Personal trainer de dondoca é outro trabalho fácil, bem remunerado e prazeroso. Vá que a dondoca seja carente! Aí a coisa rola (e não, rala!). O ambiente de trabalho é frequentemente agradável: uma bem montada academia, o calçadão das praias de Ipanema, do Leblon ou de Copacabana, ou a própria bela casa de sua pupila. Neste último local, costuma rolar, após as árduas maratonas, um refrescante suco de abacaxi com hortelã com biscoitinhos integrais.


Zé Mayer trampando para ganhar seu salário em "Viver a vida".
 Agora, vamos ser sinceros, o melhor trabalho que existe é o de beijar belas atrizes do cinema e da tevê. A gente fica olhando (digo por meu lado) aqueles abestados beijando a Camila Pitanga, a Paola Oliveira, a Ana Paula Arósio, a Thaís Araújo, dentre outras – isso para ficar só no produto nacional, e ainda receberem salário por isso. Conheço um monte de marmanjos – eu incluído – que até pagaria salário mensal à emissora só para ficar ali, pendurado no beiço daquelas belezuras. De não querer arredar do local em prazo bem alongado. Eh! trabalhinho difícil! Benza, Deus!

Um comentário:

  1. Concordo, o trabalho de beijador noveleiro não é o que se poderia chamar de trabalho duro. Mesmo porque se duro fosse não haveria novela, apenas sessão privê.

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