Nena e Anquimar trabalhavam no velho caminhão
Chevrolet Gigante da fábrica de manteiga de Libelton Boechat. Anquimar, o
motorista; Nena, o ajudante, incumbido de tirar e colocar latões de leite na
carroceria. Anquimar tinha o olho esquerdo desviado mais para a esquerda,
estufado, inconfiável para golpes de vista. Nena era fanho, gago, completamente
caolho, cabeça achatada na testa, dentição irregular, queixo embutido, meio
pancado das ideias.
Viviam lá os dois às voltas com o trabalho. Enquanto Nena carregava e descarregava o caminhão, Anquimar ficava cofiando a bigodeira preta, logo abaixo do olho esquisito e de uma pinta escura na bochecha. Nena trabalhava e cantava músicas que até hoje os ouvidos ainda não conseguiram decifrar. Enfim, cantava.
Determinada manhã, após a coleta do leite pelas fazendas e sítios próximos, o velho Chevrolet Gigante adentra o pátio da fábrica para a descarga dos latões. Nena, sobre a alta calçada na mesma linha da carroceria, fanhosamente orienta a manobra de marcha a ré de Anquimar:
- Vem, vem mais; pode vim; vem mais que dá! Vem!
Até que o caminhão bate na calçada.
Anquimar, furioso, sai da boleia e repreende o ajudante, aos gritos:
- Isso é modo de guiar a gente, Nena? Tá vendo: o caminhão bateu!
Nena, no seu quase inocente juízo avariado, argumenta cheio de razão:
- Quem manda ocê ser caolho?
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Belo ilustração do ditado: "o rôto falando do esfarrapado".
ResponderExcluirHa..ha..ha...comecei a rir no primeiro parágrafo, só de imaginar a merda que estava por vir, e não parei até agora...hi..hi...hi...
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