11 de dezembro de 2010

DESCONFIO DEMAIS

Foto por César do Canto, em flickr.com a partir de bycanto.com.
Desconfio que o fio da vida
Seja um pavio curto
Um rastilho de pólvora
Um curto-circuito
Piscadela de olhos
O zero absoluto
O calor que a friagem
Meterá num casulo
Fechado e escuro
Ataúde lacrado
Numa atroz sepultura
Capital sem usura
Cuja burra se esvaze
Assim que a luz se apague
E as contas na mesa

Desconfio demais
Mas não tenho certeza


Imagem em
comboiosweb.simplesnet.pt.

Desconfio mesmo muito
Mas sem muita certeza
Que esse trem sem comando
Maquinista inseguro
Ou ausente que seja
Pelos trilhos em apuros
Nos conduza inconteste
A paragens sem volta
A um porto obscuro
Não provido de cais
Que escoa incerteza
                                         Desconfio demais
Mas não tenho certeza

Movido então da presteza
Les très riches heures du Duc du Berry,
abril, séc. XV, em pt.wikipedia.org.
De que a vida é feita
Seja fio ou pavio
O que sobra de bem
Não é tanto esse trem
Com ou sem maquinista
É andar pelos trilhos
Caminhar confiante
Que um belo horizonte
Venha após cada túnel
Das agruras gerais
E nos faça herdeiros
Da colheita da paz
Carpe diem de hoje
É agora ou jamais

Só não tenho certeza
Mas confio demais




(Agradecimentos a César do Canto pela cessão de sua foto a ilustrar este poema.)

4 comentários:

  1. Que música, para os meus cansados ouvidos, Saint-Clair! Vou guardar para alegrar uns chegados.

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  2. Confiemos, ao menos na beleza imensurável do poema.

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  3. Ganhei a noite e o dia de amanhã. Vou ler de novo, agora com um copo de vinho, esse belíssimo poema, meu amigo.
    Laura

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  4. Obrigado, Laura! Tome uma taça também por mim. Seja bem-vinda entre os meus comentaristas.

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