30 de junho de 2012

C O R T E J O

meio-dia, sol a pino.
há um enterro na vila.

rumo ao morro da coréia
segue o féretro cansado,
levando um morto estimado.
e é possível sofrer
com a morte, mesmo o calor
sendo mais forte, escaldante,
que a lágrima que brota
do rosto de cada um.
é que dos olhos escorre
um suor, tipo de sangue:
são nossos poros que choram,
quando já ao coração
é proibido chorar.

segue o féretro ritmado
ao cemitério do morro,
enquanto todas as lágrimas,
rolando, olhos e rosto,
como se fossem um riacho
cheio de pedras, de seixos,
fazem com que o coração
despenque de morro abaixo.

e dentro do ataúde
um pouco daquela gente.

Cândido Portinari, Enterro, 1940, coleção particular (em portinari.org.br).
(Publicado originalmente em Gritos&Bochichos, em 18/3/2010.)

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