E verificou
ele, o homem, que a criatura que lhe saíra de uma costela custaria muito mais
que isto. Se fosse apenas o valor de uma costela, estaria tudo de muito boa
relação custo-benefício, mais-valia, ou lá o que seja, pois ainda não se tinha
criado a Economia, bem como os tais economistas e estudiosos encucados, cuja
missão foi meter caraminholas na cabeça do povo (Vide Marx, Engels, Smith,
Galbraith e Keynes, dentre outros.).
Em função
desta relação próxima com o dito cujo homem, a mulher passou a ser sua
cara-metade, enquanto o homem assumiu, em definitivo, o papel de pobre-metade,
principalmente quando chega o dia de fazer as compras do mês, ou quando se
aproximam aquelas datas fatídicas do ponto de vista econômico: Dia dos
Namorados, Natal, Ano Novo, aniversário de namoro, de noivado, de casamento, e
por aí afora.
No entanto,
tudo isso era perfeitamente compreensível até então. O que a maioria dos
leitores não sabe – e eu estou aqui para esclarecer – é o sistema de
funcionamento desse ser que tanto admiramos e atrás do qual vivemos correndo,
como se fosse uma cafifa destrambelhada no céu, após ter seu fio cortado por cerol,
ou mesmo um balão de festa junina decadente, a bucha já se apagando, mas ainda
potencialmente perigoso para a propriedade alheia.
Sandro Botticelli, O nascimento de Vênus, 1486 (em ricci-art.biz). |
E aqui estou
para explicar.
A mulher,
após aquela qualificação inicial e confrontante com a do homem, a qual se
baseia em aspectos externos facilmente observáveis, também tem o seu modus operandi, isto é, seu sistema de
funcionamento, a sua fisiologia.Toda mulher, ao chegar à puberdade, passa a funcionar em três voltagens, em três tensões: 110v, 220v e TPM. Até a puberdade é uma única tensão, que ainda não se definiu como 110v ou 220v.
A primeira
delas, 110v – baixa voltagem –, é o modo de operação em que a mulher está
tranquila, sossegada, calma, distensa. Este período, normalmente, se dá durante
o sono e pode ser observado pelo seu ressonar macio como o ruído de motor de
automóvel de luxo: praticamente imperceptível. Se houver ronco incomodativo
durante o sono, pode ter certeza que ela ainda não se desligou do 220v. De dia,
nas horas de sol ou chuva, e até o início da primeira novela, não se percebe
tal funcionamento.
Também podem
ocorrer períodos curtos de funcionamento nesta voltagem, após a aquisição de
novo par de sapatos ou nova bolsa, após um passeio pelo shopping. O que cessa
de imediato, quando seu parceiro lhe pergunta sobre o preço da nova aquisição e
como pagar a conta do cartão de crédito, na data do vencimento.
A segunda
tensão, 220v – média voltagem –, é o
modo de operação mais comum da mulher, excetuados o período acima descrito e o
seguinte.
Em qualquer
tarefa que desempenhe, a mulher trabalha em 220v. Enquanto seu homem vai a 75v,
ela já está em 220v, correntes alternada e contínua, cheia de altos e baixos, com períodos
de curto-circuito e descargas de adrenalina. E pede ao marido que lhe conserte
a torneira a pingar, a fechadura que não funciona, a janela emperrada. Como
sempre, ele diz: “Agora, não; manhã eu vejo isso!”. De repente, ela passa ao
sistema TPM, e aí não adianta o marido pedir a cervejinha no sofá, enquanto vê o
jogo de futebol! Já era!
Já a tensão
TPM – alta voltagem – não ocorre, como se pode supor, apenas antes daqueles
dias. Há mulheres, inclusive, que só funcionam nesta tensão. E aí, mermão, a
casa costuma pegar fogo! Se você cria criação de terreiro, tipo galinha ou
pato, os bichos não sossegam. Se você cultiva horta de hortaliças, a couve
murcha, a cebolinha míngua, a salsa dá praga.
Quando esta
terceira voltagem se limita apenas aos dias capitulados em lei, embora aí também
possa haver crimes de sangue, tudo está previsto dentro da normalidade. E
ninguém pode reclamar. O troço é assim desde aquela primeira lá no jardim do
Éden.
Na TPM, a
mulher pode inclusive esquartejar o marido e alegar, posteriormente, na justiça
que estava em seu juízo perfeito e no seu direito, e que o culpado era o
desinfeliz. Nesses casos, via de regra, ela tem o beneplácito da lei, que lhe
assegura a tal obnubilação dos sentidos, que é praticamente como conceder
alvará ao capeta.
Conheço um
casal – aqui não lhe declino o nome por uma questão de preservar as fontes de
informação – cujos filhos, hoje adultos, passaram boa parte de sua infância e
adolescência aterrorizados por certo vestido vermelho que a mãe usava na TPM. Ao acordarem
e darem de cara com a mãe, com o tal vestido vermelho, sabiam que aqueles dias seriam
piores que o cerco da volante a Lampião e Maria Bonita em Angicos: iria chover
bala para todos os lados.
Ao entrar a
mulher nesta fase de funcionamento, fica difícil para qualquer pesquisador mais
temeroso fazer prognóstico de volta, minimamente confiável, a quaisquer dos ciclos anteriores.
Aí,
malandro, vai depender do lá de cima!
E seja o que
Deus quiser!
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