18 de junho de 2012

TRATADO PERFUNCTÓRIO SOBRE A CARA-METADE

O homem, bípede implume, mamífero e sexualmente promíscuo, começou a ter problemas com a mulher, também bípede implume, mamífero, porém cheio de nós pelas costas, no dia em que acordou do profundo sono em que fora metido pelo Criador e se deparou com aquela bem acabada pessoa, cheia de curvas e reentrâncias, murundus e cacimbas, de voz suave, que lhe serviria de companhia pelo restante dos tempos, e da qual é impossível se desvencilhar, Deus seja louvado!

E verificou ele, o homem, que a criatura que lhe saíra de uma costela custaria muito mais que isto. Se fosse apenas o valor de uma costela, estaria tudo de muito boa relação custo-benefício, mais-valia, ou lá o que seja, pois ainda não se tinha criado a Economia, bem como os tais economistas e estudiosos encucados, cuja missão foi meter caraminholas na cabeça do povo (Vide Marx, Engels, Smith, Galbraith e Keynes, dentre outros.).
Em função desta relação próxima com o dito cujo homem, a mulher passou a ser sua cara-metade, enquanto o homem assumiu, em definitivo, o papel de pobre-metade, principalmente quando chega o dia de fazer as compras do mês, ou quando se aproximam aquelas datas fatídicas do ponto de vista econômico: Dia dos Namorados, Natal, Ano Novo, aniversário de namoro, de noivado, de casamento, e por aí afora.

No entanto, tudo isso era perfeitamente compreensível até então. O que a maioria dos leitores não sabe – e eu estou aqui para esclarecer – é o sistema de funcionamento desse ser que tanto admiramos e atrás do qual vivemos correndo, como se fosse uma cafifa destrambelhada no céu, após ter seu fio cortado por cerol, ou mesmo um balão de festa junina decadente, a bucha já se apagando, mas ainda potencialmente perigoso para a propriedade alheia.

Sandro Botticelli, O nascimento de Vênus, 1486 (em ricci-art.biz).
E aqui estou para explicar.
A mulher, após aquela qualificação inicial e confrontante com a do homem, a qual se baseia em aspectos externos facilmente observáveis, também tem o seu modus operandi, isto é, seu sistema de funcionamento, a sua fisiologia.

Toda mulher, ao chegar à puberdade, passa a funcionar em três voltagens, em três tensões: 110v, 220v e TPM. Até a puberdade é uma única tensão, que ainda não se definiu como 110v ou 220v.

A primeira delas, 110v – baixa voltagem –, é o modo de operação em que a mulher está tranquila, sossegada, calma, distensa. Este período, normalmente, se dá durante o sono e pode ser observado pelo seu ressonar macio como o ruído de motor de automóvel de luxo: praticamente imperceptível. Se houver ronco incomodativo durante o sono, pode ter certeza que ela ainda não se desligou do 220v. De dia, nas horas de sol ou chuva, e até o início da primeira novela, não se percebe tal funcionamento.
Também podem ocorrer períodos curtos de funcionamento nesta voltagem, após a aquisição de novo par de sapatos ou nova bolsa, após um passeio pelo shopping. O que cessa de imediato, quando seu parceiro lhe pergunta sobre o preço da nova aquisição e como pagar a conta do cartão de crédito, na data do vencimento.

A segunda tensão, 220v – média voltagem –, é  o modo de operação mais comum da mulher, excetuados o período acima descrito e o seguinte.
Em qualquer tarefa que desempenhe, a mulher trabalha em 220v. Enquanto seu homem vai a 75v, ela já está em 220v, correntes alternada e contínua, cheia de altos e baixos, com períodos de curto-circuito e descargas de adrenalina. E pede ao marido que lhe conserte a torneira a pingar, a fechadura que não funciona, a janela emperrada. Como sempre, ele diz: “Agora, não; manhã eu vejo isso!”. De repente, ela passa ao sistema TPM, e aí não adianta o marido pedir a cervejinha no sofá, enquanto vê o jogo de futebol! Já era!

Já a tensão TPM – alta voltagem – não ocorre, como se pode supor, apenas antes daqueles dias. Há mulheres, inclusive, que só funcionam nesta tensão. E aí, mermão, a casa costuma pegar fogo! Se você cria criação de terreiro, tipo galinha ou pato, os bichos não sossegam. Se você cultiva horta de hortaliças, a couve murcha, a cebolinha míngua, a salsa dá praga.
Quando esta terceira voltagem se limita apenas aos dias capitulados em lei, embora aí também possa haver crimes de sangue, tudo está previsto dentro da normalidade. E ninguém pode reclamar. O troço é assim desde aquela primeira lá no jardim do Éden.

Na TPM, a mulher pode inclusive esquartejar o marido e alegar, posteriormente, na justiça que estava em seu juízo perfeito e no seu direito, e que o culpado era o desinfeliz. Nesses casos, via de regra, ela tem o beneplácito da lei, que lhe assegura a tal obnubilação dos sentidos, que é praticamente como conceder alvará ao capeta.
Conheço um casal – aqui não lhe declino o nome por uma questão de preservar as fontes de informação – cujos filhos, hoje adultos, passaram boa parte de sua infância e adolescência aterrorizados por certo vestido vermelho que a mãe usava na TPM. Ao acordarem e darem de cara com a mãe, com o tal vestido vermelho, sabiam que aqueles dias seriam piores que o cerco da volante a Lampião e Maria Bonita em Angicos: iria chover bala para todos os lados.

Ao entrar a mulher nesta fase de funcionamento, fica difícil para qualquer pesquisador mais temeroso fazer prognóstico de volta, minimamente confiável, a quaisquer dos ciclos anteriores.
Aí, malandro, vai depender do lá de cima!

E seja o que Deus quiser!

Nenhum comentário:

Postar um comentário