Guarda-chuvas expostos por camelô em praça pública de São Paulo. Foto Breno Raigorodsky (imagem em vitruvius.com.br). |
Ao sair ontem de casa, para ir à clínica de oftalmologia, a fim de vigiar minha saliente pressão ocular, fui confrontado por uma garoazinha chata dessa derradeira manhã soturna de outono, muito propícia a nos manter mais sob os cobertores do que a nos empurrar para compromissos externos.
Como fosse imperceptível do décimo terceiro andar, a garoa me obrigou a voltar pelo mesmo elevador, no intuito de me socorrer de um guarda-chuva.
Já munido com o estropício aparentado do urubu, foi só dobrar a esquina da Miguel de Frias em direção da Moreira César, para que cruzasse com vendedor ambulante fazendo seu pregão:
- Olha o guarda-chuva! Olha a sobrinha! Não se molhe na chuva! Olha o guarda-chuva! Cinco real, dez real!
E me veio à memória certo episódio relacionado a precipitações pluviométricas inesperadas, na única vez em que estive em Nova Iorque, acompanhado de mulher e filhos, lá por volta de 1996.
Era o último dia de nossa visita de sete dias à cidade, uma sexta-feira - embarcaríamos de volta na manhã do dia seguinte.
Saímos cedo do hotel com dois propósitos: conhecer o Museu de História Natural e a manjada Estátua da Liberdade.
Assim que saímos do museu, tomamos a linha do metrô que nos levaria até as proximidades do cais de onde partem os barcos para a Liberty Island.
Desembarcamos numa estação localizada em posição oposta ao atracadouro, o que nos fez atravessar a praça no sentido diagonal.
Havia acabado de partir uma barca. A próxima levaria ainda alguns minutos.
Pois foi o tempo exato de começarem uns raindrops keep falling on our heads. Diga-se, de passagem, uns raindrops de grosso calibre. Era verão no hemisfério norte.
O jeito foi despencar-nos em sentido inverso pela praça e enfiar-nos no mesmo buraco do metrô de onde havíamos saído há coisa de quinze minutos.
E resolvemos descer em uma estação qualquer, nas proximidades da Times Square, a fim, inclusive, de almoçar, já que até aquele momento nos tínhamos alimentado apenas de cultura e entretenimento.
Ao emergir do metrô, fomos recebidos por uma copiosa chuva muito parecida com a dos verões tropicais.
Só que, com uma grande diferença: não havia por perto nenhum camelô oferecendo os salvadores guarda-chuvas, tão comuns nessas ocasiões no Rio de Janeiro.
Não nos restou alternativa a não ser dar uma corrida até uma galeria nas imediações, onde, por sorte, havia um restaurante.
E lá, em terras de Tio Sam, pude constatar a supremacia do nosso comércio sobre o dos ianques: à mínima garoa, aqui no Rio de Janeiro - e em Niterói, of course -, ninguém se molhará. É só ter cinco ou dez real, para adquirir o trambolho que nos livrará de um banho inesperado. E com uma vantagem: a oferta atual está cheia de opções nas mais diversas padronagens, e não apenas naquela tradicional cor preta.
Ao voltar da clínica, algum tempo depois, e com a continuidade da garoa anunciadora do inverno, encontro o mesmo vendedor, agora andando em sentido contrário ao anterior.
É a garantia de que não nos molharemos. Nem na ida, nem na volta! Tudo porque, no quesito, somos primeiro mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário